23/06/11

3.5. Métodos de Actuação


A luta foi longa, complexa, violenta, mas os trabalhadores rurais quase sempre adoptaram métodos de luta pacíficos, “como a realização de empates com a participação de mulheres e crianças para impedir as derrubadas da floresta”. Não obstante, ao longo do tempo os conflitos foram ficando cada vez mais explosivos e perigosos” (A.A.V.V., 2003:94).

Atenta-te para a dificuldade subjacente à participação num empate[1]. Não era uma decisão simples, significava que os trabalhadores tinham de se colocar contra o poder económico, contra aqueles que os exploravam, que lhes retiraram a terra, sem qualquer ajuda do poder político, pelo que muitas vezes havia a indecisão, o receio e o medo. Apesar de serem explorados, ainda era o pouco que recebiam dos latifundiários que permitia o sustento das famílias. Ao lutarem contra “os senhores” significava que teriam de encontrar outro meio de subsistência.

Para reforçar a confiança dos trabalhadores, fazendo-os participar, sem receio, tornando-os opositores ao sistema económico e ao poder político vigente, os mentores do movimento criaram um sistema em rede, baseado na confiança, entre todos os elementos que componham e coordenavam o Movimento (Pontes, 2010).

“Para superar o medo é preciso confiança nas pessoas que compõem e coordenam o Movimento. Assim, Chico Mendes, como líder, tinha a responsabilidade de defender a proposta da reserva extrativista, a luta contra o desmatamento e a autodefesa dos seringueiros, apresentando idéias e referências que permitissem a superação das dúvidas, eventualmente, surgidas sobre as questões, diretamente, afetas aos objetivos do movimento social dos Povos da Floresta. Desse modo, os líderes do movimento social tornam-se importantes referências para os trabalhadores indecisos” (Pontes, 2010:3).

Para poderem actuar em paralelo ao poder económico (quando os seringueiros boicotavam a actuação dos grandes latifundiários deixavam de ter fonte de sustento), exerciam a mesma actividade de forma clandestina (apoiados pelo sindicato). Isto era possível através dos apoios e alianças que os sindicatos realizaram, por exemplo com Igreja Católica Local, Organizações Não-governamentais e Centrais Sindicais.



[1] “O Empate consistia na reunião de homens, mulheres e crianças, sob a liderança dos sindicatos, para impedir o desmatamento da floresta, prática emblemática da luta dos seringueiros (…). A derrubada da mata significava a expulsão de famílias de trabalhadores”, o que eles pretendiam evitar (Gonçalves & Walter, 2009:2).

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