Tal como já referido, a acção governativa dos militares foi degradante na gestão social e ambiental. Acabou por ser mais nefasta para os autóctones e para o meio ambiente do que os ciclos económicos que se vinham a verificar desde o século XVI. Se durante o período do colonialismo os colonizadores se deslocavam à região para explorar as riquezas da floresta, num movimento do tipo nómada, com os militares existiu uma deslocação efectiva de população para a floresta da amazónica, que se sedentarizou, e que expropriou os autóctones para poder expandir a agricultura e a pecuária.
“O modelo de latifúndio dos seringais, até então dominante na Amazónia, propiciava a permanência dos trabalhadores na floresta. O novo latifúndio, a fazenda para criação de gado, promovia a chamada “limpeza do terreno”, ou seja, a retirada da floresta e do povo que lá vivia. Repentinamente, índios, seringueiros, ribeirinhos e colonos viram suas terras invadidas e devastadas em nome de um novo tipo de progresso que transformava a floresta em terra arrasada” (A.A.V.V., 2003:94).
Depois de 1975, as populações tradicionais da floresta começaram a organizar-se contra os opressores, criaram estratégias de resistência pacífica, e acabaram por conseguir que fosse criado o primeiro sindicato dos trabalhadores, Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia, o que acabou por se estender aos vários Estados da Amazónia (A.A.V.V., 2003:94). Este sindicato foi liderado por Chico Mendes[1], considerado um ecossocialista, que viria a tornar-se uma figura incontornável da luta dos seringueiros (até ser assassinado em 1988).
Este movimento de contestação social, dinamizado pelos seringueiros[2], desenvolveu um conjunto de procedimentos, acabando por definir uma metodologia de luta popular. “Essa experiência tem a sua lógica construída na práxis. Essa lógica tem como componentes constitutivos a indignação e a revolta, a necessidade e o interesse, a consciência e a identidade, a experiência e a resistência, a concepção de terra de trabalho contra a de terra de negócio e de exploração, movimento e superação” (Pontes, 2010:2).
Em 1985, no primeiro Encontro Nacional dos Seringueiros, liderado por Chico Mendes, foi criado o Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS), fruto de uma forte consciencialização do problema ambiental, e sobretudo social, resultante da devastação da floresta amazónica. Apesar do nome remeter para os seringueiros, este Conselho reunia também outros sectores populares da Amazónia, tais como os índios, os ribeirinhos, e os castanheiros, entre outros (A.A.V.V., 2003:95).
[1] Foi um forte líder sindical e um activista ambiental. Após a sua morte o governo Brasileiro reconheceu a pertinência do seu trabalho. Enquanto viveu participou activamente nas lutas dos seringueiros para impedir o desmatamento através dos “empates” (manifestações pacíficas em que os seringueiros protegem as árvores com seus próprios corpos). Organizava também várias acções em defesa da posse da terra pelos habitantes nativos.
[2] Seringueiro é o personagem típico da região dos seringais. É aquele que extrai o látex das seringueiras e viabiliza sua transformação em borracha natural. Seringalista é o proprietário do seringal (das árvores).
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