12/07/09

Viagens Maritimas Portuguesas

Após o conturbado período medieval, caracterizado por pestes, guerras e fome inicia-se o processo de exploração e expansão, denominado: Os Descobrimentos Portugueses.

A História dos Descobrimentos Portugueses, segundo dois grandes historiadores, João Paulo Oliveira e Costa e Teresa Lacerda, pode dividir-se em três distintos momentos temporais. (Costa & Lacerda, 2007):

  1. Império marítimo até o primeiro terço do século XVI
  2. Crise do império marítimo e transição para um império territorial, até ao 2/3 do séc. XVII;
  3. Afirmação do império territorial, a partir de finais do século XVII;



O início da expansão marítima portuguesa[1] apresenta algumas divergências entre os estudiosos; se por um lado eruditos, como A.H. de Oliveira Marques, consideram o início da expansão portuguesa aquando da ocupação permanente da Madeira (1419) e Açores (1427), outros consideram o início dos Descobrimentos aquando da conquista de Ceuta (1415) (Lacome, 1979) (Saraiva, 1993 [1978])), e outros, ainda introduzem mais variáveis, indagando se não seria mais sensato pensar em ideais de exploração e descobrimentos no “ (…) reinado de D. Dinis e logo após a reorganização da armada real pelos genoveses, em 1317, e da criação, dois anos depois, da Ordem de Cristo com sede e castelo em Castro Marim” (Cortesão, 1975-1976:180). Para Cortesão (1975-1976), a actuação do poder monárquico tem implícito a defesa intencional de propósitos geopolíticos no estuário do Rio Guadiana, bastante próximo dos portos granadinos e marroquinos, ou seja, uma exploração implícita.

Várias causas concederam a Portugal preponderância no grande movimento de navegações que se verificou na Europa a partir do séc. XV. A primeira foi a própria posição geográfica do país, localizado na extremidade de um continente, com uma vasta costa para o oceano Atlântico e dispondo de excelentes portos. A segunda baseia-se em motivações anti-islâmicas: o país estava fortemente vinculado à religião e quase toda a reconquista do território foi feita através da conquista aos islâmicos, sendo que estes até meados do século XVI, ainda levavam acabo ataques a partir do Norte de África, nomeadamente de Ceuta, com incidência em todo o território de Portugal, especialmente na zona do Algarve. As razias também aconteciam do lado português.

A terceira causa fundamenta-se com a sua pretensa em encontrar em África outras cristandades diferentes das europeias, incontactáveis e isoladas em pequenos reinos devido à expansão do mundo árabe, de que é exemplo reino cristão do Preste João. (Marques, 1998).

Outra causa foi o desenvolvimento da marinha e do comércio em Portugal com base em técnicas e instrumentos adequados para a navegação de longo curso, herança da civilização árabe (a vela Latina e todo o saber astronómico), e ao mesmo tempo, dotados de bons navios e recursos humanos adaptados ao mar. O cruzamento de técnicas de navegação no Mediterrâneo, com destaque para as utilizadas por italianos e catalões (carta-portulano, navegação tipo rumo ou estima e toleta de marteloio), conjugadas com as técnicas de construção naval do Atlântico dinamizaram o “ (…) repositório de saber teórico susceptível de ser utilizado à medida que o requeresse as necessidades práticas” (Thomaz, 1994: 6-7). Estes entre outros, foram os principais motivos que levaram Portugal a lançar-se na expansão, e não somente questões ligadas à pobreza, aos solos de má qualidade, clima irregular, regime pluviométrico aleatório, ou terreno acidentado (Thomaz, 1994).

Segundo António Sérgio de Sousa[2] (1977), de todas as necessidades identificáveis no reino de Portugal, seria a carência de cereais (para combater a fome) e de ouro (para equilibrar as finanças), que mais influenciou na expansão.

Todas as causas enumeradas anteriormente só fazem sentido quando se lhe agrega mais um fundamento: a alta ordem moral e intelectual do Infante D. Henrique, “O Navegador”. Dotado de um enorme manancial financeiro proveniente da renda auferida enquanto mestre da Ordem de Cristo, afirmou-se pelos serviços prestados à navegação e foi impulsionado pelo espírito de cruzada e cavalaria objectivando a aniquilação dos muçulmanos e por considerações políticas e económicas (Lacome, 1979).

A navegação europeia até ao séc. XV concentrava-se no mar Mediterrâneo. Os Árabes traziam os produtos (de elevado valor e muito apreciáveis pelos europeus) do Oriente em caravanas até aos portos de Constantinopla, da Síria e do Egipto, e estes posteriormente eram transportados por navios para as cidades italianas (ex: Florença, Génova e Veneza). Era a Rota do Levante, rota comercial esta muito favorável a comerciantes árabes e italianos.
Logo após a conquista de Ceuta, o Infante D. Henrique ordenou uma viagem de exploração pelo Norte de África, em, 1416.

O primeiro grande feito marítimo que inicia a progressiva descoberta da orla marítima ocidental de África é a ultrapassagem do Cabo Bojador, feita em 1434 por Gil Eanes, depois de uma tentativa frustrada. A última etapa foi a passagem do Cabo das Tormentas, que passou a designar-se Cabo da Boa Esperança, situado no extremo Sul de África, por Bartolomeu Dias, em 1488 (Marques, 1998).

Enquanto a costa ocidental da África era minuciosamente explorada, já se pensava que seria possível alcançar a Índia navegando sempre em direcção Oeste, em virtude de a terra ser redonda (Lacome, 1979), e também, devido à política de expansionista de D. João II, que se caracterizou por grande secretismo.

Numa viagem cuidadosamente planeada e exemplarmente executada dez anos depois (1498), já sob o reinado de D. Manuel I, Vasco da Gama chegou a Calecute e estabeleceu as bases do comércio português da Índia. Este acontecimento teve repercussões em todo o mundo e levou o rei D. Manuel, “O Venturoso”, a acrescentar novas dignidades ao antigo título de rei de Portugal e dos Algarves, que passou a designar-se por: “rei de Portugal e dos Algarves e senhor da Conquista, Navegação e Comercio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia” (Saraiva, 1993 [1978: 153])).

A chegada ao Oriente foi complicada por ser um espaço inóspito. Os Árabes tinham o monopólio comercial do Oceano Índico, Mar Vermelho e Golfo Pérsico, e face a uma expedição portuguesa pouco armada (carente em navios, canhões e soldados) e representada por personagens não pertencentes a uma nobreza de espada, provocou algumas contrariedades aos portugueses traduzidas em vitórias militares árabes.

Em 1510, Afonso de Albuquerque numa segunda tentativa, conquistou a cidade de Goa e transferiu a sede do reino português do oriente de Calecute para Goa, permanecendo aí até 1961, (Saraiva, 1993 [1978: 153])). No século XVI, a Índia representava fisicamente todo o mundo oriental, desde o cabo da Boa Esperança até ao Japão e aos arquipélagos do Pacífico.



BIBLIOGRAFIA

ALBUQUERQUE, Luís (1994) (dir.), Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses, Volume I, Coordenação de Francisco Contente Domingues, Editora Caminho, Lisboa, pág. 463.

CORTESÃO, Jaime (1975-1976), Os descobrimentos portugueses, Vol. I, Editora Livros Horizonte, Lisboa.

COSTA, João, LACERDA, Teresa (2007), A interculturalidade na Expansão Portuguesa: (séculos XV-XVIII), 1.ª Edição, Edição do Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas, Lisboa, ISBN 978-989-8000-31-6.

DIAS, Pedro (1994), «O Palácio dos Vice-Reis em Goa», in Goa e o Grão-Mogol, edição de Jorge Flores e Nuno Vassallo e Silva, editado pela Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, pp. 68-97.

FRADE, Florbela (1999), A Presença Portuguesa nas Ilhas de Maluco – 1511-1605, Dissertação de Mestrado em História dos Descobrimentos e Expansão Portuguesa realizada sob orientação cientifica do Sr. Professor doutor António Dias Farinha da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

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LACOMBE, Américo (1979), História do Brasil, edição da Companhia Editora Nacional, São Paulo.

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MARQUES, A. H. Oliveira (1998), «A Expansão no Atlântico», in A Expansão Quatrocentista, Vol. II, Nova História da Expansão Portuguesa, Coordenação de Joel Serrão e A. H. Oliveira Marques, 1.ª Edição, Editorial Estampa, Lisboa.

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PENROSE, Bóies (1960), Goa – Rainha do Oriente, Editado pela Library of the Instituto Britânico em Portugal/Comissão Ultramarina no âmbito das Comemorações do V Centenário da Morte do Infante D. Henrique, edição bi-lingua em porugues/inglês, Lisboa.

SARAIVA, José (Dir.) (1983), História de Portugal, Vol. 6, Publicações Alfa, S.A.R.L., Lisboa.

SARAIVA, José Hermano (1993 [1978]), História concisa de Portugal, Publicações Europa-América, 16ª Ed., Lisboa, pág. 123-152.

SÉRGIO, António (1977), Breve Introdução da História de Portugal, Edição Sá da Costa, Lisboa.

THOMAZ, Luís (1994), De Ceuta a Timor, Editora Difel, Viseu (ISBN: 972-29-0308-X; Obra patrocinada pelo grupo de trabalho do Ministério da Educação para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses).


WEBRAFIA

LOPES, J. Marques (2009),
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http://fr.wikipedia.org/wiki/Fran%C3%A7ois_Pyrard, acedido em 4 de Maio de 2009, às 10:00 horas (página actualizada pela última vez em 18 de Março de 2009).
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[1] Ao abordar este tema tem forçosamente que se referir que antes da descoberta da Madeira, as viagens marítimas portuguesas não foram contínuas, nem extensas, nem sistematicamente orientadas, sendo mais frequente a pratica de corso contra às embarcações marroquinas, durante um longo período de tempo, no sul de Portugal.
[2] António Sérgio foi um importante historiador na historiografia portuguesa, teorizando sobre um vasto período de tempo e elaborando, assim, sínteses históricas de relevante importância. Nasceu na Índia Portuguesa, em Damão, a 3 de Novembro de 1883, enquanto o seu pai ocupava aí o lugar de governador do distrito.


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