14/04/08

Práticas Textuais: MARCUSCHI, L. A. (2001), Da fala para a escrita, actividades de retextualização, São Paulo, Cortez Editora, pp. 15-43 (trab. n.º 2)


ANÁLISE DO TEXTO:
MARCUSCHI, L. A. (2001), Da fala para a escrita, actividades de retextualização,
São Paulo, Cortez Editora, pp. 15-43.


Titulo do Capitulo: Oralidade e Letramento

Objectivo de estudo: Determinar usos práticos da Língua

História do tema descrito pelo autor:

        De 1950 até 1980, os estudiosos examinavam a oralidade e a escrita como rivais entre si.

        A partir dos anos 80 estes dois termos passaram a ser vistos de igual forma.

      Actualmente impera a concepção da escrita e oralidade como actividades interactivas e complementares.


Ponto 1: Oralidade e Letramento como Práticas sociais (p. 15)

A oralidade e Letramento podem ser actividades interactivas e complementares.

Não interessa o facto da faculdade da linguagem ser um fenómeno inato, o que importa é o uso que se atribui à língua, ou seja, “...uma análise de usos e práticas sociais e não de formas abstratas...” (p. 16).

O letramento nas sociedades modernas é um elemento de distinção social, que pode “...simbolizar educação, desenvolvimento e poder...” (p. 17).

A escrita e a fala permitem textos coesos e coerentes, raciocínios abstractos e exposições formais e informais, variações estilísticas, sociais e dialécticas, ect...

A escrita síncrona (em tempo real, ex. Internet), è um tipo de comunicação comum à fala e à escrita, ou seja, um texto misto, em que o tempo real da fala corresponde ao tempo real da escrita da tecla, através da inovação tecnológica dos Bate-papos. Para o autor, o que surpreende não é a forma do texto, mas a relação que se estabelece com a escrita, on-line, em tempo real.

A fala resulta das práticas orais, sociais diárias e informais, desde o primeiro sorriso maternal que vai inserindo o indivíduo no meio sócio-cultural. A escrita resulta da mecânica do letramento, dada através de uma organização formal como a escola.

Entre a fala e a escrita, esta ultima é mais valorizada culturalmente porque é inerente a um bem de elevado prestigio ao longo da história do homem.


Ponto 2: Presença da Oralidade e da Escrita na sociedade (p. 19)

O Letramento pode ser adquirido em contextos não escolares permitindo de igual forma a aquisição de bons conhecimentos.

A escrita e a língua são usadas em todos os contextos: no trabalho, escola, dia-a-dia, família, vida burocrática e actividade intelectual. Em cada contexto o uso da língua altera conforme a necessidades dos cidadãos.

Existe na sociedade um grande conhecimento sobre métodos de alfabetização. Contudo, existem carências em saber como funcionam os processos que permitem à população adquirir conhecimentos sobre a alfabetização (ex: Iletrados).

Existem muitas divergências em relação aos iletrados, já que estes não sendo letrados possuem um lugar na sociedade, com as mesmas responsabilidades que os ditos letrados. Os métodos que os iletrados utilizam para fazer as suas actividades diárias, não são técnicas conhecidas, são simplesmente técnicas intuitivas do espírito de sobrevivência que cada se humano possui.

Existe na sociedade uma grande especialização de mão-de-obra e esta define o tipo e posto de trabalho de cada cidadão, baseando-se nas qualificações académicas.

A escrita e a oralidade podem estar presentes na sociedade de três formas:

     a) Letramento – Tudo o que se aprende no dia-a-dia, no trabalho, em conversas dos mais variados assuntos, etc; tudo que se aprende via informal, sem recurso a instituições de ensino. [É o saber ser e saber fazer].

     b) Alfabetização – É a primeira etapa da escolarização, ou seja, a habilidade restrita.

     c) Escolarização – Toda a informação que os cidadãos aprendem com recurso a instituições de ensino, ou seja, a habilidade alargada e o saber fazer.

A alfabetização torna-se contraditória no seio da classe politica porque alguns políticos defendem que a alfabetização deveria ser aplicada sob o controlo dos estados e em instituições de ensino certificadas. O objectivo desta teoria é formar cidadãos de acordo com as necessidades do poder político, ou seja, tornar a escrita um fenómeno “ideologiável” (p. 24), dentro da ideologia do estado.


Ponto 3: Oralidade versus Letramento ou Fala versus Escrita? (p. 25)


A distinção da dimensão da relação no tratamento da língua falada e língua escrita:

     a) A oralidade e o letramento – distinção práticas sociais
     b) A fala e a escrita – distinção entre modalidades de uso da língua

A distinção entre a fala e a escrita no texto contempla a sua condição de código, ou seja, o conjunto de regras e formas sociais de controlo e ajustamento à sociedade.

Oralidade – Prática social de comunicação dos indivíduos

Letramento – Diversas práticas da escrita (saber ler; identificar o dinheiro e os autocarros; fazer cálculos; distinguir marcas, etc.)

Fala – Recurso sonoro, expressivo, gestual

Ponto 4: A perspectiva das dicotomias (p. 27). A partir deste ponto são apresentadas as quatro tendências dicotómicas da fala versus escrita.

Os linguistas dedicam-se “...à análise das relações entre as duas modalidades de uso da língua (fala versus escrita))...” (p. 27) para perceber as diferenças à luz da perspectiva dicotomia.

A perspectiva dicotomia é abordada de duas formas pelos diversos autores. Um primeiro conjunto de autores, representam as dicotomias mais polarizadas e de visão restrita e, um segundo conjunto de autores entende as “...relações entre a fala e escrita dentro de um continuo, seja tipológico ou da realidade cognitiva e social...” (p. 27).

A dicotomia Estrita é vista pelos gramáticos como rigorosa e restritiva e deu origem à existência de uma única norma linguística, utilizada como padrão, denominada de norma culta.

Os autores que defendem a perspectiva da dicotomia estrita têm um modelo, denominado visão imanentista, que propõe a separação entre língua e o seu uso, tornado a língua um sistema de regras.

O autor defende a rejeição da perspectiva da dicotomia estrita, porque considera a “...fala como lugar do erro e do caos gramatical, tornando a escrita como lugar da norma e do bom uso da língua...” (p. 28).


Ponto 5: A tendência fenomenológica de carácter culturalista (p. 28)

A segunda tendência dos linguistas é a que analisa a natureza das práticas da oralidade versus escrita. Esta visão é denominada de visão culturalista, [na perspectiva de Sapir] dando primazia aos aspectos cognitivos e antropológicos.

Esta visão é criticada por tratar ralações linguísticas a uma escala macro e com tendência a uma análise da formação da mentalidade dentro das actividades psico-socioeconómicas-culturais de modo amplo.

A perspectiva culturalista é ainda criticada por Generre, por querer o engrandecimento da escrita, de três formas:

      1) Etnocentrismo (privilegia o olhar ocidental, do autor).
      2) Supervalorização (mitificação da escrita, valorização excessiva da cultura civilizada).
     3) Forma Globante (não hà sociedades globalmente letradas, mas grupos de letrados, elitizados em sociedades não homogéneas mas heterogéneas).


Ponto 6: A perspectiva variacionista (p. 31)

A terceira tendência é considerada pelo autor intermédia em relação à visão culturista e dicotomias estritas e está isenta da generalidade dos problemas que ambas possuem.

A diferença desta tendência em relação às anteriores, consiste em não fazer distinções entre “…fala e escrita, mas sim uma observação de variedades linguísticas distintas…” (p. 31).

O autor afirma simpatizar com esta perspectiva, em prol de evitar o equívoco de identificar a língua escrita como uma língua padrão, como defendem os autores que defendem a perspectiva da dicotomia estrita. Esta teoria afirma que existe uma variação entre a fala e a escrita, ou seja, não são iguais.

Ele defende que a fala e a escrita não são dois dialectos, mas sim duas formas de usar a língua. Para ele o aluno usa a fala e a escrita, logo é bimodal.


Ponto 7: A perspectiva sociointeracionista (p. 32)

Conjunto de "postulados" aparentemente sem nexo, dispersos, que existem entre a fala e a escrita, que o autor caracteriza como "visão sociointeracionista", baseados em oito percepções comuns à fala e à escrita ( Dialogicidade,…,…,).

Este paradigma ajuda a compreender a língua como uma manifestação orgânica, com vida, dinâmica, eu estabelece relações e interacções em tempo real, uma das maiores características da fala.

O autor recorre ao pensamento de Street, para defender que o modelo descrito possibilita uma análise critica do discurso, que aliada a métodos etnográficos pode ajudar o estudo do letramento e da oralidade, como expressões sociais.

Porém, o autor chama a atenção que esta perspectiva minimiza os aspectos explicativos e descritivos da sintaxe e da fonologia da língua, assim como da produção e compreensão do texto, propondo a fusão do modelo viracionista com o modelo etnográfico, juntamente com a linguística do texto.

O interacionismo permite analisar textos colectivos ou individuais, através ao modelo interpretativo, bastante utilizado na antropologia, e com forte apoio em vários autores brasileiros.

A perspectiva interacionista maximixa o contexto histórico, social e cultural que leva à construção de categorias linguísticas, à produção de géneros textuais, com aspectos dos costumes e hábitos da sociedade, estimulando aspectos cognitivos do autor/produtor/ leitor do texto.



Ponto 8: Aspectos relevantes para a observação da relação fala e escrita (p. 35).
Após o autor ter referido as quatro perspectivas dicotomias, introduz um capítulo, o último, e faz o balanço dos pontos anteriores, concluindo com base no que tinha exposto.


A língua é um organizador social importante que molda a própria cultura [(Pátria, Ya meu, cotas (velhos), rei, rainha, presidente da república, pai, mãe, professor, padre, etc.].

A língua é um dispositivo simbólico que une ou desune os indivíduos (Benfica/Sporting desune; Selecção Nacional de Futebol une. A Polis na Antiga Grécia unia os indivíduos, a politica dos nosso dias desune os indivíduos).

A fala e a escrita estão ao mesmo nível; nenhuma tem privilégios intrínsecos!

A fala tem maior peso temporal, surgiu primeiro; e continua a surgir. 1º. Aprende-se a falar, só depois se aprende a escrever). Mas a escrita tem maior prestígio social, sob o ponto de vista da ideologia, exceptuando algumas culturas que dão maior valor à fala e menor valor à escrita. (a cultura cigana não valoriza a escrita na formação das meninas).

Apesar da força da escrita, a verdade é que a globalização da comunicação faz-se pela oralidade, inerente à espécie humana.

Embora tenhamos vários falares (línguas), a fala continua ainda assim a ser o maior catalizador e aglutinador para a identidade grupal. Contrariamente, a escrita não conduz só por si à unidade grupal, excepção feita à literatura tradicional onde são aflurados recursos estilísticos e expressões regionalistas.

A escrita obedece à norma, mas paradoxalmente o seu carácter, que pode ser anónimo, não leva à estigmatização do indivíduo, do autor, de quem escreve.

Posso anonimamente escrever numa folha de papel, na internet, num blog e dizer que sou traficante de droga, que não fico estigmatizado; ou seja ninguém sabe quem eu sou.

Mas pelo contrário, se eu disser oralmente em público, na tv, num jornal, que sou traficante de droga, fico estigmatizado; todos ficam a saber um pormenor da minha vivência pessoal.

A escrita parece estanque, parada, fixa, como a escrita jurídica: as leis. Mas vejamos como ela convive "ombro-a-ombro" com a fala e a oralidade na sala do tribunal, aquando de um julgamento por divórcio, furto, acidente de viação, etc.

É a fala que observa a escrita, ou é a escrita que observa a fala?

Em princípio parece ser a escrita que "vigia" a fala, porque a escrita tem um código, uma norma, um padrão. Exemplo: no Norte de Portugal eu digo baca e toda a gente entende o que digo. Mas a norma proíbe que escreva baca e obriga-me a escrever vaca.

A fala é estruturalmente concreta, simples e informal;

A escrita é estruturalmente abstracta, complexa e formal., embora alguns autores tenham opinião diferente sobre tal.

O autor elaborou uma arquitectura em três gráficos diferentes, das diferenças entre fala e escrita. Todavia, a leitura dos dois contínums (fala e escrita) é demasiado complexa e as conclusões não permitem ficar com uma ideia clarividente em termos práticos e teóricos.



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