14/04/08

Alteraçoes da Escrita face ás Novas Tecnologias



De acordo com Babo (2000:159) a escrita pode ser decomposta em Mecânica (fixa) e Digital (móvel). A crescente evolução das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) atribuiu novas configurações à escrita, inovando os materiais primitivos da sua utilização: substituição do papel e da caneta pelo teclado digital e, mais recentemente, por comandos de voz, que informaticamente interligam a escrita à voz do utilizador.

Enquanto a escrita tradicional pode ser considerada como linear e acabada, a escrita digital, ou hipertexto, torna-se um produto deslinearizado e alterável.

O hipertexto “ (…) deixa ao leitor a opção de recompor o texto, (…). A função do autor desloca-se no sentido do leitor, que participa da composição ou da formatação do texto pela virtualidade. A cada leitor, a cada leitura, um novo texto; e a autoria se faz substituir pela co-autoria…”. (Marinho, 2001:181).

Este ponto de vista não é homogéneo entre os eruditos. Contudo, parece-me evidente que o hipertexto pode permitir aos seus utilizadores a passagem de uma primeira leitura – linear – para a exploração sequencial – deslinearizada – do texto, ou seja, estimular uma leitura mais fácil e flexível, permitindo alterar o objectivo inicial, em função das ideias emergentes.

Este novo suporte permite armazenar mais informação, preservá-la por mais tempo, mas por outro lado, permite a destruição da informação associada a erros humanos, independentemente da vontade do utilizador. Em ambiente hipertextual, aponta-se como negativa a deslinearização que deriva da alteração da sequência das páginas devido à sucessiva activação de janelas, e pode afastar o pensamento das ideias iniciais.

Outra das questões que se colocam ao hipertexto é a definição de autor. Na antiguidade pré-clássica e clássica, os “génios”que contribuíram para o desenvolvimento das sociedades estavam geralmente mais desligados da questão da autoria. Os escrivãos, ao reescreverem os livros, introduziam alterações no corpo do texto. Não identificavam o autor, ou colocavam o seu nome como autor. Assim o hipertexto actual recupera aspectos que existiram no passado.

A noção de autor é um conceito heterogéneo: o autor é um criador, mas pode simultaneamente ser um “tradutor”.


Referencias Bibliográficas:

BABO, A Maria (2000), Alterações da escrita face às novas Tecnologias, p. 159-162 in ARAÚJO, M Luís (cord.) A Escrita das Escritas. Fundação Portuguesa de Comunicações, Estar Ed., Lisboa.

MARINHO, Marildes (Org.) (2001), Ler e navegar: espaços e percursos da leitura, Mercado de Letras, São Paulo.


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