A história da civilização ocidental começa com a história de civilização grega. Apesar da sua geografia dispersa, a Grécia do período Clássico (séc. VIII a.C. – séc. IV a.C.) tinha uma vida cultural relativamente homogénea, expressa numa língua comum e em formas de organização política e crenças religiosas semelhantes, e ainda de maior importância, viviam segundo o modo de vida helénico, caracterizado pela Pólis. A pólis representa um marco histórico da civilização grega e surgiu ao mesmo tempo que o alfabeto.
Neste período, os habitantes da Grécia chamam-se a si mesmos de helenos, ou sejam os habitantes que vivem na Hélade (território da actual Grécia, ou outro local onde se estabelecessem helenos que vivessem segundo o modo de vida heleno – Pólis).
O modo de vida dos helenos, aquilo que os distingue dos outros povos, entre outras coisas, é a pólis. A pólis é a solução à realidade que se vivia na primeira Idade do Ferro. E então o que é a pólis? É liberdade, é forma de organização de comunidades, é unidade dos helenos, no entanto, é independência entre os helenos, é factor de diferenciação.
A pólis é uma produção dos cidadãos e não dos deuses. Esta forma de organização que apresenta uma unidade política, territorial, social, religiosa, económica e cultural foi fundamental para o desenvolvimento do pensamento humano, isto porque, com os cidadãos a viver em igualdade, é vencedor quem consegue persuadir, quem argumenta e exibe ideias fortes, não só em relação à política, mas a tudo que se referia à vida dos gregos.
A pólis a nível político organiza-se tendo como base o conceito de cidadania. Constitui uma unidade política, assente na livre participação política de todos os cidadãos (com excepções: diferenças entre homens e Mulheres; Livres e escravos; politai e não politai; cultos e ignorantes; pobres e ricos) e assente em regras específicas que foram sendo alteradas ao longo do período clássico. O regime político varia de pólis para pólis. Cada pólis é regida por leis e instituições próprias, ainda que sejam comuns a todas as pólis, de que é o caso da Assembleia do Povo (todos os cidadãos), Conselho e Magistrados (eleitos pelos cidadãos).
A pólis é uma unidade territorial que agrega áreas urbanas e rurais, e tem sempre uma capital urbana, onde se encontram os espaços e edifícios públicos. O campo é constituído por propriedades fundiárias e com espaços para a prática da agricultura. É igualmente constituída por um Conjunto de pessoas: Homens e mulheres (não têm qualquer peso a nenhum nível e espera-se delas uma vida recatada); Livres (considerados cidadãos e não cidadãos) e escravos.
Ao nível cultural e ao nível da organização da comunidade, a pólis apresenta-se como um factor de unidade mas também de diversidade – pólis é a “mestra do Homem”, ou seja, a pólis tem a função de formar/educar. O cidadão tem como objectivo a excelência “aretê”.
A pólis constitui ainda uma unidade económica assente na autarcia, com diferenças de pólis para pólis que se verificam ao nível da moeda própria, da legislação económica própria, dos sistemas de pesos e medidas e dos sistemas de impostos e taxas.
Do ponto de vista religioso o sistema de vida da pólis partilha os mesmos deuses e rituais, tendo porém cada pólis o seu próprio calendário religioso e os seus feriados, e ainda uma divindade políade, que é a padroeira da pólis.
A Hélade não corresponde a um estado único, é uma nação distribuída por vários estados e países. Foi unidade cultural, mas não foi unidade geográfica nem politica. Os estados têm total independência. A Hélade é uma nação. Esta situação era reconhecida pelos helenos, que não os preocupava. Reconheciam que tinham a mesma língua, os mesmos deuses, que todos se organizavam da mesma maneira, e ainda que tinham a mesma origem étnica e o mesmo sangue.
A Pólis é o que distingue os gregos de Bárbaros (diferente, apenas diferente, tanto para melhor como para pior). Os macedónios que tinham os mesmos deuses, a mesa língua, mas não eram helenos, porque não se organizava, segundo o sistema de vida Polis. No entanto, cada pólis tem as suas características próprias, como é o caso da religião, da legislação, da organização militar, sendo independentes entre si: factor de diferença, de oposição. Só no século V, os habitantes da Hélade se consideram uma nação, rejeitando as diferenças e pondo em evidência as semelhanças.
Tucídides dizia ‘’a pólis são os cidadãos’’, ou seja, a pólis só existe porque existem cidadãos com um método de viver diferente, organizados em diferentes estatutos: cidadãos, estrangeiros, mulheres e escravos. É esta a essência da pólis, o cidadão (politai), que vive um modo de vida assente na liberdade, a polis.
Os gregos do período clássico estabelecem-se fora do território da actual Grécia, e criam “colónias”, ou seja criam pólis que obedecem á pólis mãe, mas que posteriormente se “libertam” da pólis que a fundou. A criação destas ‘’colónias’’ não pressupôs uma emigração, nem uma colonização, pois não foi movimento de população desorganizado, nem existia dominação do novo território, que era adquirido através de acordos. Assim o nome que era dado às ‘’colónias” dos helenos é apoikia, que traduzido à letra significa “residência distante” (pólis), que constituía uma pequena parte da Hélade, pois era habitada por helenos que viviam ao modo de vida do resto da Hélade, numa pólis.
Uma apoikia é uma pólis fundada de raiz, que pode ter surgido por dois motivos: ou agrícolas (o excedente populacional espalhou-se pelo Mundo Egeu devido à falta de fertilidade da terra) ou comercias (associado à falta de metais e de recursos naturais, houve a partida de Helenos da actual Grécia). Os motivos que levaram os helenos à expansão pelo Mundo Egeu foram a pouca fertilidade dos solos, falta de minérios e proximidade das rotas comerciais.
Os helenos que se organizaram desde o final da primeira idade do ferro e início do período clássico, em póleis separadas geográfica e politicamente, umas das outras, com territórios pequenos, vai favorecer os contactos comerciais.
Apesar das apoikia os helenos ainda criaram as emporian “feitorias”. Estas eram uma espécie de depósito utilizado estrategicamente no âmbito das trocas comerciais. Porém, esta diáspora dos helenos foi muito diferente das contemporâneas migrações, que se pautam por um movimento organizado. A de “colonização” grega não impõe uma dominação porque planeia a sua partida, adquire os territórios para a sua fixação através de acordos comerciais ou através da compra, e ainda mantém relações com os povos que habitem em redor destas feitorias.
Este sistema de feitorias permitiu a expansão do mundo heleno e a consequente helenização do mundo mediterrâneo, desenvolvendo relações comerciais entre gregos e não gregos, que iria influenciar os gregos na sua moeda, no alfabeto (adaptaram o alfabeto fenício) e nos conhecimentos (está na origem do conhecimento filosófico).
A pólis garante a liberdade das pessoas, ou seja a cidadania. Porém, esta liberdade gera instabilidade e contestação, e os helenos tentam sempre encontrar harmonia para que a liberdade se mantenha. Quando a liberdade dos helenos acaba, quando a cidadania desaparece, então a pólis acaba. Para que a liberdade exista e seja respeitada à que estabelecer um equilíbrio, uma excelência a ‘’Aretê’’, que é objectivo a atingir pelo homem, que pode ter de recorrer a competição saudável ‘’agon’’, para o conseguir.
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