09/01/09

Civilização Romana

“A este regime que costumamos chamar Republica os Romanos chamavam libertos, liberdade por oposição á tirania real (regnum) e tinham consciência que um mundo de monarquias (barbaras e helenísticas) se tratava de um regime privilegiado que podia servir de modelo.”

(François HINARD, La Republique Romaine, Que Sais-Je?, Paris, PUF, 1992, p.13).

A organização política dos Romanos começou por ser uma Monarquia, sabendo-se que a última foi a de Tarquínio, o Soberbo. A República Romana poderá se balizar no tempo entre os anos 509 a.C e 27 a.C., e foi encabeçada pelo sítio de Roma (Lácio). A sua localização nas margens do rio Tibre em conjunto com uma basta rede hidrográfica facilitou o desenvolvimento das trocas comerciais permitindo a sua subsistência.

Os primeiros dois séculos da república (séc. VI e V a.C.) foram muito difíceis de estudar. Segundo a lenda, após a implantação da república, houve dois anos de guerra nos quais os reis etruscos depostos tentaram recuperar o trono.

A arqueologia e a epigrafia dizem que neste período se registou uma grande movimentação de povos (Norte para Sul) e que, segundo as fontes gregas, faziam incursões guerreiras para roubar, originando várias guerras. Roma é contestada, e pode ter sido neste contexto que caiu a monarquia etrusca em Roma e se implementou a República. A este novo regime que chamamos de República os Romanos chamavam libertos: um espaço de liberdade e de cidadania semelhante ao modelo da pólis Grega. A República no fundo é o sistema de vida dos Romanos que lhe garante a liberdade dando menos ênfase à igualdade. Os Romanos consideravam-se os únicos homens livres do mundo e viviam num regime privilegiado que poderia servir de modelo.

Em termos gerais, a sociedade romana é patriarcal, estratificada e hierarquizada. Existe um chefe de família que decide quando os filhos nascem se eles vivem ou morrem e que ajuíza e intervêm nos conflitos familiares. Os filhos pertencem sempre à família do pai e as mulheres pertencem à sua família. O estatuto da mulher é inexistente ou muito inferior ao estatuto do homem e a mulher está sempre dependente de um homem.

É uma sociedade estratificada e hierarquizada, constituída por grupos que vivem em sociedade, mas com valores diferentes, ou seja, um diferente reconhecimento social. Os Romanos dividiam-se primeiramente, entre homens e mulheres, e depois entre livres e não livres. Os não livres eram os escravos (servai) e os livres eram os libertus e os ingennus. Ainda existia a diferenciação entre os livres não Romanos (gentios) e os livres Cidadãos-Romanos. Dentro da classe de cidadãos Romanos ainda se fazia a distinção entre Patricius e Plebeus.

A sociedade estava organizada em cinco classes censitárias, que iam dos mais ricos aos mais pobres e duas infra-classes, constituídas por deficientes, doentes e velhos. As classes por sua vez estão subdivididas em ordens. A título de exemplo, a primeira classe era constituída pela ordem senatorial e pela ordem equestre. Esta divisão é causada pela necessidade de mobilização militar e tinha efeito fiscal e político. Os mais ricos presentes nas votações são os mais influentes nas tomadas de decisão.

Os Romanos viviam em liberdade e sabiam que tinham direitos e deveres a cumprir, tais como o direito ao uso dos tria nomina (praenomen + nomem + cognomem), direito à carreira das honras (ius honorarium), direito de participar no exercito (ius militti), direito de possuir, transmitir e acrescentar as suas propriedades (ius commercii), direito de contrair matromonio de forma legal (ius connubium) e direito de voto (ius suffragii). Todos estes direitos eram ao mesmo tempo deveres.

A religião e as funções religiosas visam manter a paz com os deuses (pax deorum). A religião romana tem as seguintes características: politeísta, não revelada (nunca apareceu um deus a um romano para lhe revelar dogmas), aberta, tolerante, ritualista (existência de muitos procedimentos para se manter a “pax deorum”), pragmática (não implica questões de fé) e conservadora.

A religião insere-se na política, mas a segunda está submetida à primeira. No entanto, o estado apenas interfere naquilo que diz respeito ao público (cultos públicos – promovidos pela Res Pública, participados por ela, e presididos pelos seus magistrados, para beneficio da mesma), deixando de lado a vida privada (cultos privados – destinam-se ao indivíduo enquanto ser particular ou à sua família). O estado romano existe porque os deuses assim o determinaram (foram os deuses que decidiram que os Romanos seriam cidadãos e não súbditos).

Desde a origem da República, e esporadicamente, a aristocracia dá lugar a uma oligarquia: um grupo de pessoas detém o poder, mas de uma forma ilegal. A Oligarquia constitui uma deturpação do poder, da aristocracia. Isto acontece quando uma família proíbe a mobilidade social dos cidadãos. Normalmente, este facto termina em guerras civis ou em grandes reformas na República. Um exemplo disso é a divisão patrícios/plebeus.

O sistema político romano é uma aristocracia de tipo censitário (timocracia ou plutocracia). Os órgãos e instituições políticas são: as Assembleias, as Magistraturas, Concilium Plebis, Senatus e Populus Romanus. As instituições políticas garantem a manutenção da liberdade.

As assembleias serviam para os Romanos discutirem os seus assuntos (contia (s.) / contiones (p.)). Todos os cidadãos podiam assistir e participar na assembleia e as decisões eram tomadas por todos os que constituíam o populus romanus. Havia vários tipos de assembleias de acordo com a forma como fossem convocadas: assembleias por cúrias (Cumices curiates), assembleias por tribos (Cumices tributes) e assembleias por centúrias (Cumices centuriates).

As magistraturas são sempre electivas, anuais e não remuneradas. Através da summa honoraria, os magistrados pagam uma quantia para agradecer a honra da magistratura, que poderia ser de duas tipologias: Potestas (forma de poder que é concedida aos magistrados para o período da magistratura, um ano) ou Imperium (poder supremo concedido pelos deuses a um número limitado de magistrados durante o período da magistratura, um ano).

O Concilium plebis surgiu no momento em que um conjunto de famílias patrícias usurpou o poder. É formado o concilio da plebe, onde participam apenas os plebeus. As decisões tomadas são designadas de plesbicitas, as quais equivalem às leges.

O Senatus não é a assembleia de todo o povo. É a mais antiga e é constituída pelos anciães, tendo funções consultivas. Teve uma grande importância no decorrer do período republicano. O número de membros variava, mas situava-se normalmente entre os 100 e os 300. Estes eram recrutados entre os mais experientes e escolhidos pelos membros que já estavam no Senado (cooptação). Reunia-se sempre que o magistrado pretendia e dava a sua decisão.

Durante a campanha para cargos políticos, os candidatos deviam usar a toga candida, ou seja, uma toga branca que simboliza a pureza das intenções do candidato.

Inicialmente, para a defesa do seu território, os Romanos tinham um exército de carácter temporário que era constituído pelos cidadãos (Legião Romana). Mais tarde, as guerras tornaram-se cada vez mais frequentes levando à mobilização dos cidadãos quase permanente, situação que durou vários séculos e provocou instabilidade militar e social. Os Romanos foram integrando os povos vencidos e viram o seu território aumentar até ao ponto de se tornaram uma minoria no seu próprio espaço. As guerras nunca tinham lugar em Roma porque a harmonia entre os cidadãos era fulcral para a defesa do território.

No século IV a. C. Camilo propõe uma reforma que se materializa na profissionalização do exército, alterações na estratégia militar e maior eficácia na guerra e também, recrutamento a contracto de mercenários e angariação de associados.

A República garante a libertas? Sim. A prova está que todos os cidadãos estão presentes nas instituições. E garante a igualdade? Não. É uma aristocracia de base censitária, os cidadãos estão organizados em classes e, dentro destas, em ordens. Não garante a liberdade nem nunca o pretendeu fazer, pelo contrário, sempre estimulou a diferença e a estratificação. As Assembleias do povo sempre recusaram a democracia; consideravam-na uma falsa realidade, porque já viviam em liberdade.

Eles acreditavam que quem tinha trabalhado mais tinha conseguido por mérito próprio uma grande fortuna e assim, um estatuto social de relevo. Justificavam este sistema como uma forma de estimular a luta entre os cidadãos para subir na sua condição e ao mesmo tempo beneficiar a República com a criação de mais valias.

08/01/09

Civilização Grega

A história da civilização ocidental começa com a história de civilização grega. Apesar da sua geografia dispersa, a Grécia do período Clássico (séc. VIII a.C. – séc. IV a.C.) tinha uma vida cultural relativamente homogénea, expressa numa língua comum e em formas de organização política e crenças religiosas semelhantes, e ainda de maior importância, viviam segundo o modo de vida helénico, caracterizado pela Pólis. A pólis representa um marco histórico da civilização grega e surgiu ao mesmo tempo que o alfabeto.

Neste período, os habitantes da Grécia chamam-se a si mesmos de helenos, ou sejam os habitantes que vivem na Hélade (território da actual Grécia, ou outro local onde se estabelecessem helenos que vivessem segundo o modo de vida heleno – Pólis).

O modo de vida dos helenos, aquilo que os distingue dos outros povos, entre outras coisas, é a pólis. A pólis é a solução à realidade que se vivia na primeira Idade do Ferro. E então o que é a pólis? É liberdade, é forma de organização de comunidades, é unidade dos helenos, no entanto, é independência entre os helenos, é factor de diferenciação.

A pólis é uma produção dos cidadãos e não dos deuses. Esta forma de organização que apresenta uma unidade política, territorial, social, religiosa, económica e cultural foi fundamental para o desenvolvimento do pensamento humano, isto porque, com os cidadãos a viver em igualdade, é vencedor quem consegue persuadir, quem argumenta e exibe ideias fortes, não só em relação à política, mas a tudo que se referia à vida dos gregos.

A pólis a nível político organiza-se tendo como base o conceito de cidadania. Constitui uma unidade política, assente na livre participação política de todos os cidadãos (com excepções: diferenças entre homens e Mulheres; Livres e escravos; politai e não politai; cultos e ignorantes; pobres e ricos) e assente em regras específicas que foram sendo alteradas ao longo do período clássico. O regime político varia de pólis para pólis. Cada pólis é regida por leis e instituições próprias, ainda que sejam comuns a todas as pólis, de que é o caso da Assembleia do Povo (todos os cidadãos), Conselho e Magistrados (eleitos pelos cidadãos).

A pólis é uma unidade territorial que agrega áreas urbanas e rurais, e tem sempre uma capital urbana, onde se encontram os espaços e edifícios públicos. O campo é constituído por propriedades fundiárias e com espaços para a prática da agricultura. É igualmente constituída por um Conjunto de pessoas: Homens e mulheres (não têm qualquer peso a nenhum nível e espera-se delas uma vida recatada); Livres (considerados cidadãos e não cidadãos) e escravos.
Ao nível cultural e ao nível da organização da comunidade, a pólis apresenta-se como um factor de unidade mas também de diversidade – pólis é a “mestra do Homem”, ou seja, a pólis tem a função de formar/educar. O cidadão tem como objectivo a excelência “aretê”.

A pólis constitui ainda uma unidade económica assente na autarcia, com diferenças de pólis para pólis que se verificam ao nível da moeda própria, da legislação económica própria, dos sistemas de pesos e medidas e dos sistemas de impostos e taxas.

Do ponto de vista religioso o sistema de vida da pólis partilha os mesmos deuses e rituais, tendo porém cada pólis o seu próprio calendário religioso e os seus feriados, e ainda uma divindade políade, que é a padroeira da pólis.

A Hélade não corresponde a um estado único, é uma nação distribuída por vários estados e países. Foi unidade cultural, mas não foi unidade geográfica nem politica. Os estados têm total independência. A Hélade é uma nação. Esta situação era reconhecida pelos helenos, que não os preocupava. Reconheciam que tinham a mesma língua, os mesmos deuses, que todos se organizavam da mesma maneira, e ainda que tinham a mesma origem étnica e o mesmo sangue.
A Pólis é o que distingue os gregos de Bárbaros (diferente, apenas diferente, tanto para melhor como para pior). Os macedónios que tinham os mesmos deuses, a mesa língua, mas não eram helenos, porque não se organizava, segundo o sistema de vida Polis. No entanto, cada pólis tem as suas características próprias, como é o caso da religião, da legislação, da organização militar, sendo independentes entre si: factor de diferença, de oposição. Só no século V, os habitantes da Hélade se consideram uma nação, rejeitando as diferenças e pondo em evidência as semelhanças.

Tucídides dizia ‘’a pólis são os cidadãos’’, ou seja, a pólis só existe porque existem cidadãos com um método de viver diferente, organizados em diferentes estatutos: cidadãos, estrangeiros, mulheres e escravos. É esta a essência da pólis, o cidadão (politai), que vive um modo de vida assente na liberdade, a polis.

Os gregos do período clássico estabelecem-se fora do território da actual Grécia, e criam “colónias”, ou seja criam pólis que obedecem á pólis mãe, mas que posteriormente se “libertam” da pólis que a fundou. A criação destas ‘’colónias’’ não pressupôs uma emigração, nem uma colonização, pois não foi movimento de população desorganizado, nem existia dominação do novo território, que era adquirido através de acordos. Assim o nome que era dado às ‘’colónias” dos helenos é apoikia, que traduzido à letra significa “residência distante” (pólis), que constituía uma pequena parte da Hélade, pois era habitada por helenos que viviam ao modo de vida do resto da Hélade, numa pólis.

Uma apoikia é uma pólis fundada de raiz, que pode ter surgido por dois motivos: ou agrícolas (o excedente populacional espalhou-se pelo Mundo Egeu devido à falta de fertilidade da terra) ou comercias (associado à falta de metais e de recursos naturais, houve a partida de Helenos da actual Grécia). Os motivos que levaram os helenos à expansão pelo Mundo Egeu foram a pouca fertilidade dos solos, falta de minérios e proximidade das rotas comerciais.

Os helenos que se organizaram desde o final da primeira idade do ferro e início do período clássico, em póleis separadas geográfica e politicamente, umas das outras, com territórios pequenos, vai favorecer os contactos comerciais.

Apesar das apoikia os helenos ainda criaram as emporian “feitorias”. Estas eram uma espécie de depósito utilizado estrategicamente no âmbito das trocas comerciais. Porém, esta diáspora dos helenos foi muito diferente das contemporâneas migrações, que se pautam por um movimento organizado. A de “colonização” grega não impõe uma dominação porque planeia a sua partida, adquire os territórios para a sua fixação através de acordos comerciais ou através da compra, e ainda mantém relações com os povos que habitem em redor destas feitorias.

Este sistema de feitorias permitiu a expansão do mundo heleno e a consequente helenização do mundo mediterrâneo, desenvolvendo relações comerciais entre gregos e não gregos, que iria influenciar os gregos na sua moeda, no alfabeto (adaptaram o alfabeto fenício) e nos conhecimentos (está na origem do conhecimento filosófico).

A pólis garante a liberdade das pessoas, ou seja a cidadania. Porém, esta liberdade gera instabilidade e contestação, e os helenos tentam sempre encontrar harmonia para que a liberdade se mantenha. Quando a liberdade dos helenos acaba, quando a cidadania desaparece, então a pólis acaba. Para que a liberdade exista e seja respeitada à que estabelecer um equilíbrio, uma excelência a ‘’Aretê’’, que é objectivo a atingir pelo homem, que pode ter de recorrer a competição saudável ‘’agon’’, para o conseguir.

07/01/09

Definição da Palavra Pólis

De um modo geral a palavra pólis aparece nas bibliografias com a tradução de cidade-estado. Ora isto é errado porque pólis não corresponde a um território exclusivamente de cidade, nem só a uma forma política. Pode, inclusive, ser composto por mais do que uma cidade, de que é o caso da pólis Ateniense que era constituída por quatro cidades. A pólis agrega áreas rurais e áreas urbanas, mas a capital, onde se localizam os edifícios públicos é sempre urbana.

Concepção partilhada por vários autores que consideram que a pólis “…não tinha nada da cidade-estado como estamos acostumados a chamá-la — pois não era, em nenhum sentido, um “Estado”. A polis era uma cidade-comunidade, uma koinomía. Tucídides definiu-a com três palavras: ándres gar polis — os homens é que são a cidade. É muito revelador que a politéia tenha significado, ao mesmo tempo, cidadania e estrutura (forma) da polis. Assim, quando falamos do sistema grego como um Estado democrático, estamos sendo grosseiramente imprecisos, tanto terminológica quanto conceitualmente…” (Sartori, 1994:35).


(SARTORI, Giovanni (1994), A teoria da democracia revisitada, Editora Ática, Vol. II, São Paulo).


Pólis dos Atenienses

Os helenos organizaram-se desde o final da primeira idade do ferro e início do período clássico em póleis separadas geográfica e politicamente umas das outras, com territórios pequenos, favorecendo assim os contactos comerciais.

No século VII a.C. Cílon tenta instaurar uma tirania em Atenas, mas não consegue. Dracon é escolhido para fazer um código de leis escritas, mas estas leis eram baseadas na punição, ainda que tentassem promover a liberdade. Entra-se assim num período de ‘’dysnomia’’ (falta de harmonia, desorganização). Sólon (arconte) é então encarregado de rever o processo legislativo e apresenta um novo código: ‘’Seisachteia’’, com medidas sociais, económicas e institucionais.

Ao nível das medidas institucionais, cria instituições e reformula as existentes, em que o cidadão participa directamente, sendo classes de cidadãos excluídas de algumas instituições políticas, devido a motivos económicos, pois o facto de participarem na vida política (não remunerada), tirar-lhes-ia o trabalho que têm, que é remunerado. Apesar de todas as medidas tomadas, com vista a melhoria da vida dos atenienses, entra-se de novo num clima de dysnomia.

Este clima é aproveitado pela família dos Pisistrátidas, em que Pisístrato tenta por três vezes impor-se como tirano e à terceira vez consegue. Apesar de ser um tirano, Pisístrato não ‘’tira’’ a liberdade aos atenienses, e toma medidas que promoveram a harmonia da polis. Após a sua morte, um dos seus filhos é morto e o outro afastado do poder. Surge assim Clístenes, eleito arconte (509-508 a.C.) divide os cidadãos em quatro classes, para efeitos fiscais, políticos e militares, e dividiu a Ática em três zonas (litoral, interior e urbana) e organizou tribos, que contivessem uma zona de cada. Assim conseguiu a votação com base nos interesses comuns da pólis. Consegue harmonia da polis, que é interrompida pelas invasões persas.

Após as invasões persas e vivendo-se num clima de dysnomia, Péricles é eleito para estratega desde 443 a.C. a 431 a.C., e propõe medidas politicas para aperfeiçoamento da democracia, que são aceites. Consegue assim o estabelecimento da democracia e a defesa de valores como a Isegoria (liberdade de expressão), a Isocracia (igualdade acesso ao poder) e Isonomia (igualdade perante a lei), valores fundamentais à democracia, e que condicionam a dysnomia na pólis, pelo que estes valores favorecem a liberdade, a cidadania, factor estruturante de uma pólis.

Com esta estabilidade toda, Atenas tem ideias imperialistas, que conduzem à guerra do Peloponeso (431-404 a.C.), que leva à guerra entre coligações de póleis. Depois desta guerra e depois do imperialismo macedónico sobre a Hélade, os helenos perderam a liberdade, perderam a sua cidadania, o seu modelo político (democracia), ou seja os helenos não vivem como verdadeiros helenos, não vivem numa pólis. Acaba assim o período da civilização grega clássica e entra-se no período helenístico.


06/01/09

Pólis dos Espartanos

A pólis dos espartanos na sua extensão máxima ocupava o Peloponeso e a Lacónia. Os espartanos são dos poucos Gregos que viveram numa planície (no contexto grego). O Peloponeso é uma grande planície que está integrada na Lacónia, entre os montes Parnon e Taygeté, e tem um rio que foi muito importante para Esparta, o Rio Eurotas.

A pólis de Esparta surgiu a partir de quatro povoados diferentes do Peloponeso que se uniram no processo de sinecismo (explicação defendida pelos próprios Espartanos). Com o tempo e com guerras, os espartanos ocuparam a Lacónia e as regiões vizinhas.

Os arqueólogos encontram poucos vestígios de materiais entre os séculos VIII a.C. e IV a.C. na área geográfica da pólis de Esparta. Geralmente, o que os investigadores sabem dos espartanos é lhe transmitido pelos vizinhos de Esparta. Esta falta de vestígios deve-se sobretudo à simplicidade da vida dos espartanos.

A pólis dos espartanos foi extremamente disciplinada o que motivava algum descontentamento a outros helenos, nomeadamente aos atenienses, que frequentemente criavam conflitos na sua pólis, em que muitas vezes era necessário alterar as leis para os suprimir.

A estabilidade da pólis dos espartanos só foi possível devido à falta de prazeres pessoais dos seus cidadãos e da negação de bens supérfluos, e ainda da aceitação pela pólis da fazer aplicar a lei. A título de exemplo, todos os espartanos, desde os pobres aos ricos, tomavam banho no rio Eurotas abdicando de tomar banho confortavelmente em sua casa.

Somente uma vez a pólis dos espartanos entrou em dysnomia. Então, Licurgo foi consultar o oráculo de Delfos e quando regressou à pólis apresentou aos concidadãos a lei (Rethra). A Rethra, aprovada pelo Deus Apolo, foi colocada em prática e nunca foi contestada nem alterada. Facto que permitiu aos espartanos viveram para sempre em eunomia (harmonia). Esta explicação é completamente lendária porque a Rethra nunca foi escrita e ninguém sabia quem era Licurgo.

A Rethra contemplava a divisão da população em tribos (phylai) e em agrupamentos militares (opai), uma reforma agrária que consistia na divisão do território em parcelas de produtividade iguais; distribuição pela população e a definição de instituições políticas e sistemas de organização que levassem à harmonia.

Os espartanos são caracterizados como lacónicos por falarem pouco; levavam uma vida objectiva e de bastantes sacrifícios, e tinham um regime de treino militar permanente (preparação para a guerra serviu para travar a revolta dos servos). Desde novos que os espartanos vivem com os mínimos, sem qualquer conforto ou regalia, para se prepararem para serem bons soldados. O que lhes interessava eram as suas qualidades militares que pudessem ser aplicadas na defesa e protecção da sua pólis. Nem mesmo os edifícios de maior relevo eram tão imponentes como, por exemplo, os de Atenas.

Aos sete anos de idade as crianças de Esparta abandonam o lar e são inscritas em quartéis com refeitório onde vão residir durante o período que vão receber formação ao abrigo do Programa educativo de Aprendizagem (AGOJ). Este programa prepara os cidadãos para a actividade politica e militar. Entre as actividades politicas estão também as religiosas.

Aos trinta anos recebem o título de cidadãos. Devem se casar e para esse fim recebem da pólis uma parcela de terreno para produzir.

Os laços familiares são reduzidos ao mínimo entre os país e os filhos, e também entre os maridos e as mulheres. O objectivo é que eles estejam preparados constantemente para a guerra, para que não fiquem presos em recordações que lhe possam limitar a produtividade na guerra. Pretende-se que os espartanos coloquem a sua vida ao serviço da guerra, ou seja, da pólis, sem que existam quaisquer reservas se tiver que escolher entre a vida dos seus familiares ou entre a comunidade (pólis).

As mulheres também têm um programa específico educativo e físico. O programa físico pretende munir a mulher de instrumentos de defesa pessoal para se defender na ausência do seu marido. Também está incluído no programa de formação da mulher como esta deve gerir a casa e tratar os filhos, enquanto estes residem com a mãe. Sabe-se que na ausência do marido as mulheres espartanas tinham que gerir os bens da família.

Alem dos próprios espartanos, ainda viviam na pólis dos espartanos os elotas. Após os espartanos ganharem a primeira Guerra Messénica (c. 730 a.C. – 710 a.C.) libertaram os Messénicos. Porém, estes voltaram a atacar Esparta pela segunda vez em (c. 640 a.C. – 630 a.C.) e mais uma vez perderam a guerra. Os espartanos reduziram à servidão todos os Messénicos, para que pudessem se dedicar à arte da guerra enquanto os elotas trabalhavam nas suas fazendas para permitir a sustentabilidade da pólis. Esta é uma dedução que se pode fazer pois os espartanos nunca tinham feito servos até esta batalha.

As informações de fontes históricas credíveis para estudar a pólis espartana são reduzidas. Dos espartanos só se conhece o grupo porque nunca quiseram evidenciar em particular alguém do grupo. Não se conhecem indivíduos, nem artistas, nem intelectuais, e raramente se conhecem alguns reis “basileus”, os quais são eleitos vitaliciamente e tinham que obedecer à lei.

Sabe-se que os espartanos estabeleceram tratados com os periecos, permitindo-lhes a conservação da autonomia local em troca do pagamento de impostos e da proibição da celebração de tratados de política externa. Também poderá ser daí que surgiu os conflitos com os Messénicos. Destes tratados os Periecos tinham que pagar um imposto aos Espartanos. Este é pago em géneros porque os espartanos não tinham muito comércio externo, logo não precisavam de moeda.

Para além dos conflitos com os Messénicos os espartanos tiveram, com alguma frequência, conflitos de menor dimensão com Cítara e Arcádia, e mais com Atenas na guerra do Peloponeso.