14/04/08

Práticas Textuais: MARCUSCHI, L. A. (2001), Da fala para a escrita, actividades de retextualização, São Paulo, Cortez Editora, pp. 15-43 (trab. n.º 2)


ANÁLISE DO TEXTO:
MARCUSCHI, L. A. (2001), Da fala para a escrita, actividades de retextualização,
São Paulo, Cortez Editora, pp. 15-43.


Titulo do Capitulo: Oralidade e Letramento

Objectivo de estudo: Determinar usos práticos da Língua

História do tema descrito pelo autor:

        De 1950 até 1980, os estudiosos examinavam a oralidade e a escrita como rivais entre si.

        A partir dos anos 80 estes dois termos passaram a ser vistos de igual forma.

      Actualmente impera a concepção da escrita e oralidade como actividades interactivas e complementares.


Ponto 1: Oralidade e Letramento como Práticas sociais (p. 15)

A oralidade e Letramento podem ser actividades interactivas e complementares.

Não interessa o facto da faculdade da linguagem ser um fenómeno inato, o que importa é o uso que se atribui à língua, ou seja, “...uma análise de usos e práticas sociais e não de formas abstratas...” (p. 16).

O letramento nas sociedades modernas é um elemento de distinção social, que pode “...simbolizar educação, desenvolvimento e poder...” (p. 17).

A escrita e a fala permitem textos coesos e coerentes, raciocínios abstractos e exposições formais e informais, variações estilísticas, sociais e dialécticas, ect...

A escrita síncrona (em tempo real, ex. Internet), è um tipo de comunicação comum à fala e à escrita, ou seja, um texto misto, em que o tempo real da fala corresponde ao tempo real da escrita da tecla, através da inovação tecnológica dos Bate-papos. Para o autor, o que surpreende não é a forma do texto, mas a relação que se estabelece com a escrita, on-line, em tempo real.

A fala resulta das práticas orais, sociais diárias e informais, desde o primeiro sorriso maternal que vai inserindo o indivíduo no meio sócio-cultural. A escrita resulta da mecânica do letramento, dada através de uma organização formal como a escola.

Entre a fala e a escrita, esta ultima é mais valorizada culturalmente porque é inerente a um bem de elevado prestigio ao longo da história do homem.


Ponto 2: Presença da Oralidade e da Escrita na sociedade (p. 19)

O Letramento pode ser adquirido em contextos não escolares permitindo de igual forma a aquisição de bons conhecimentos.

A escrita e a língua são usadas em todos os contextos: no trabalho, escola, dia-a-dia, família, vida burocrática e actividade intelectual. Em cada contexto o uso da língua altera conforme a necessidades dos cidadãos.

Existe na sociedade um grande conhecimento sobre métodos de alfabetização. Contudo, existem carências em saber como funcionam os processos que permitem à população adquirir conhecimentos sobre a alfabetização (ex: Iletrados).

Existem muitas divergências em relação aos iletrados, já que estes não sendo letrados possuem um lugar na sociedade, com as mesmas responsabilidades que os ditos letrados. Os métodos que os iletrados utilizam para fazer as suas actividades diárias, não são técnicas conhecidas, são simplesmente técnicas intuitivas do espírito de sobrevivência que cada se humano possui.

Existe na sociedade uma grande especialização de mão-de-obra e esta define o tipo e posto de trabalho de cada cidadão, baseando-se nas qualificações académicas.

A escrita e a oralidade podem estar presentes na sociedade de três formas:

     a) Letramento – Tudo o que se aprende no dia-a-dia, no trabalho, em conversas dos mais variados assuntos, etc; tudo que se aprende via informal, sem recurso a instituições de ensino. [É o saber ser e saber fazer].

     b) Alfabetização – É a primeira etapa da escolarização, ou seja, a habilidade restrita.

     c) Escolarização – Toda a informação que os cidadãos aprendem com recurso a instituições de ensino, ou seja, a habilidade alargada e o saber fazer.

A alfabetização torna-se contraditória no seio da classe politica porque alguns políticos defendem que a alfabetização deveria ser aplicada sob o controlo dos estados e em instituições de ensino certificadas. O objectivo desta teoria é formar cidadãos de acordo com as necessidades do poder político, ou seja, tornar a escrita um fenómeno “ideologiável” (p. 24), dentro da ideologia do estado.


Ponto 3: Oralidade versus Letramento ou Fala versus Escrita? (p. 25)


A distinção da dimensão da relação no tratamento da língua falada e língua escrita:

     a) A oralidade e o letramento – distinção práticas sociais
     b) A fala e a escrita – distinção entre modalidades de uso da língua

A distinção entre a fala e a escrita no texto contempla a sua condição de código, ou seja, o conjunto de regras e formas sociais de controlo e ajustamento à sociedade.

Oralidade – Prática social de comunicação dos indivíduos

Letramento – Diversas práticas da escrita (saber ler; identificar o dinheiro e os autocarros; fazer cálculos; distinguir marcas, etc.)

Fala – Recurso sonoro, expressivo, gestual

Ponto 4: A perspectiva das dicotomias (p. 27). A partir deste ponto são apresentadas as quatro tendências dicotómicas da fala versus escrita.

Os linguistas dedicam-se “...à análise das relações entre as duas modalidades de uso da língua (fala versus escrita))...” (p. 27) para perceber as diferenças à luz da perspectiva dicotomia.

A perspectiva dicotomia é abordada de duas formas pelos diversos autores. Um primeiro conjunto de autores, representam as dicotomias mais polarizadas e de visão restrita e, um segundo conjunto de autores entende as “...relações entre a fala e escrita dentro de um continuo, seja tipológico ou da realidade cognitiva e social...” (p. 27).

A dicotomia Estrita é vista pelos gramáticos como rigorosa e restritiva e deu origem à existência de uma única norma linguística, utilizada como padrão, denominada de norma culta.

Os autores que defendem a perspectiva da dicotomia estrita têm um modelo, denominado visão imanentista, que propõe a separação entre língua e o seu uso, tornado a língua um sistema de regras.

O autor defende a rejeição da perspectiva da dicotomia estrita, porque considera a “...fala como lugar do erro e do caos gramatical, tornando a escrita como lugar da norma e do bom uso da língua...” (p. 28).


Ponto 5: A tendência fenomenológica de carácter culturalista (p. 28)

A segunda tendência dos linguistas é a que analisa a natureza das práticas da oralidade versus escrita. Esta visão é denominada de visão culturalista, [na perspectiva de Sapir] dando primazia aos aspectos cognitivos e antropológicos.

Esta visão é criticada por tratar ralações linguísticas a uma escala macro e com tendência a uma análise da formação da mentalidade dentro das actividades psico-socioeconómicas-culturais de modo amplo.

A perspectiva culturalista é ainda criticada por Generre, por querer o engrandecimento da escrita, de três formas:

      1) Etnocentrismo (privilegia o olhar ocidental, do autor).
      2) Supervalorização (mitificação da escrita, valorização excessiva da cultura civilizada).
     3) Forma Globante (não hà sociedades globalmente letradas, mas grupos de letrados, elitizados em sociedades não homogéneas mas heterogéneas).


Ponto 6: A perspectiva variacionista (p. 31)

A terceira tendência é considerada pelo autor intermédia em relação à visão culturista e dicotomias estritas e está isenta da generalidade dos problemas que ambas possuem.

A diferença desta tendência em relação às anteriores, consiste em não fazer distinções entre “…fala e escrita, mas sim uma observação de variedades linguísticas distintas…” (p. 31).

O autor afirma simpatizar com esta perspectiva, em prol de evitar o equívoco de identificar a língua escrita como uma língua padrão, como defendem os autores que defendem a perspectiva da dicotomia estrita. Esta teoria afirma que existe uma variação entre a fala e a escrita, ou seja, não são iguais.

Ele defende que a fala e a escrita não são dois dialectos, mas sim duas formas de usar a língua. Para ele o aluno usa a fala e a escrita, logo é bimodal.


Ponto 7: A perspectiva sociointeracionista (p. 32)

Conjunto de "postulados" aparentemente sem nexo, dispersos, que existem entre a fala e a escrita, que o autor caracteriza como "visão sociointeracionista", baseados em oito percepções comuns à fala e à escrita ( Dialogicidade,…,…,).

Este paradigma ajuda a compreender a língua como uma manifestação orgânica, com vida, dinâmica, eu estabelece relações e interacções em tempo real, uma das maiores características da fala.

O autor recorre ao pensamento de Street, para defender que o modelo descrito possibilita uma análise critica do discurso, que aliada a métodos etnográficos pode ajudar o estudo do letramento e da oralidade, como expressões sociais.

Porém, o autor chama a atenção que esta perspectiva minimiza os aspectos explicativos e descritivos da sintaxe e da fonologia da língua, assim como da produção e compreensão do texto, propondo a fusão do modelo viracionista com o modelo etnográfico, juntamente com a linguística do texto.

O interacionismo permite analisar textos colectivos ou individuais, através ao modelo interpretativo, bastante utilizado na antropologia, e com forte apoio em vários autores brasileiros.

A perspectiva interacionista maximixa o contexto histórico, social e cultural que leva à construção de categorias linguísticas, à produção de géneros textuais, com aspectos dos costumes e hábitos da sociedade, estimulando aspectos cognitivos do autor/produtor/ leitor do texto.



Ponto 8: Aspectos relevantes para a observação da relação fala e escrita (p. 35).
Após o autor ter referido as quatro perspectivas dicotomias, introduz um capítulo, o último, e faz o balanço dos pontos anteriores, concluindo com base no que tinha exposto.


A língua é um organizador social importante que molda a própria cultura [(Pátria, Ya meu, cotas (velhos), rei, rainha, presidente da república, pai, mãe, professor, padre, etc.].

A língua é um dispositivo simbólico que une ou desune os indivíduos (Benfica/Sporting desune; Selecção Nacional de Futebol une. A Polis na Antiga Grécia unia os indivíduos, a politica dos nosso dias desune os indivíduos).

A fala e a escrita estão ao mesmo nível; nenhuma tem privilégios intrínsecos!

A fala tem maior peso temporal, surgiu primeiro; e continua a surgir. 1º. Aprende-se a falar, só depois se aprende a escrever). Mas a escrita tem maior prestígio social, sob o ponto de vista da ideologia, exceptuando algumas culturas que dão maior valor à fala e menor valor à escrita. (a cultura cigana não valoriza a escrita na formação das meninas).

Apesar da força da escrita, a verdade é que a globalização da comunicação faz-se pela oralidade, inerente à espécie humana.

Embora tenhamos vários falares (línguas), a fala continua ainda assim a ser o maior catalizador e aglutinador para a identidade grupal. Contrariamente, a escrita não conduz só por si à unidade grupal, excepção feita à literatura tradicional onde são aflurados recursos estilísticos e expressões regionalistas.

A escrita obedece à norma, mas paradoxalmente o seu carácter, que pode ser anónimo, não leva à estigmatização do indivíduo, do autor, de quem escreve.

Posso anonimamente escrever numa folha de papel, na internet, num blog e dizer que sou traficante de droga, que não fico estigmatizado; ou seja ninguém sabe quem eu sou.

Mas pelo contrário, se eu disser oralmente em público, na tv, num jornal, que sou traficante de droga, fico estigmatizado; todos ficam a saber um pormenor da minha vivência pessoal.

A escrita parece estanque, parada, fixa, como a escrita jurídica: as leis. Mas vejamos como ela convive "ombro-a-ombro" com a fala e a oralidade na sala do tribunal, aquando de um julgamento por divórcio, furto, acidente de viação, etc.

É a fala que observa a escrita, ou é a escrita que observa a fala?

Em princípio parece ser a escrita que "vigia" a fala, porque a escrita tem um código, uma norma, um padrão. Exemplo: no Norte de Portugal eu digo baca e toda a gente entende o que digo. Mas a norma proíbe que escreva baca e obriga-me a escrever vaca.

A fala é estruturalmente concreta, simples e informal;

A escrita é estruturalmente abstracta, complexa e formal., embora alguns autores tenham opinião diferente sobre tal.

O autor elaborou uma arquitectura em três gráficos diferentes, das diferenças entre fala e escrita. Todavia, a leitura dos dois contínums (fala e escrita) é demasiado complexa e as conclusões não permitem ficar com uma ideia clarividente em termos práticos e teóricos.



Práticas Textuais: MARCUSCHI, L. A. (2001), Da fala para a escrita, actividades de retextualização, São Paulo, Cortez Editora, p. 15-43 (trab. n.º 3)


TEXTO:
MARCUSCHI, L. A. (2001), Da fala para a escrita, actividades de retextualização,
São Paulo, Cortez Editora, pp. 15-43.


Título do Capitulo: Oralidade e Letramento

Objectivo deste trabalho: O objectivo do presente trabalho é agrupar os pontos com características comuns e com continuidade, do texto de Marcushi.















O autor nos 1, 2 e 3 introduz a relação entre a fala e a escrita, confinando ao ponto três a função de conclusão. Contudo, Marcushi no ponto 1 introduz a temática e no ponto 2 aborda e estuda como estás práticas se relacionam, no interior da sociedade.

O ponto 3 faz uma síntese dos dois pontos anteriores e introduz as várias perspectivas dicotómicas acerca da problemática existente no seio dos eruditos.

Em suma, até ao ponto 3 Marcushi apresenta a problemática e no último paragrafo deste mesmo ponto, introduz um bloco com as várias perspectivas dicotómicas. Ainda apresenta a definição dos termos oralidade, letramento, fala e escrita.

Os pontos 4, 5, 6 e 7 apresentam as várias perspectivas dicotómicas em relação à fala e à escrita, das quais ele vai discordar na totalidade.

     • Ponto 4 – Dicotomias Estritas

     • Ponto 5 – Visão Culturalista
 
     • Ponto 6 – Perspectiva Varicionista

     • Ponto 7 – perspectiva Sociointeracionista

Durante a abordagem destas dicotomias, o autor vai afirmando a sua posição em relação ao tema, deixando claro o porque da sua “inclinação” contra as várias perspectivas, em termos gerais contra a Dicotomia Estrita.

Por fim no ponto 8 apresenta uma conclusão argumentativa, prolongada, que não se limita a reflectir sobre as análises feitas no decorrer do texto, mas sim, indaga as perspectivas analisadas anteriormente, acrescenta novas ideias e indica qual a sua posição em relação à fala e à escrita.

Mais uma vez deixa claro a sua posição face à Dicotomia Estrita afirmando no último paragrafo “…a fala e escrita (…) [devem ser] vistas e analisadas na perspectiva do uso e não do sistema…”. Esta frase caracteriza parte significativa do texto, onde Marcushi critica todas as perspectivas, defendendo a sua ideologia de análise da fala e escrita como práticas sociais e não como códigos.


Práticas Textuais: Apresentação Oral de um Capitulo de um Livro (trab. n.º 4)


Apresentação Oral de um Capitulo de um Livro
Escrever Melhor, Falar Melhor


Maria Antónia Coutinho

(docente muito digna, cooperativa, sempre disponível para ajudar os alunos. Possui um grande conhecimento técnico/cientifico e tem um elevado sentido de responsabilidade. Exige muito aos seus alunos mas também dá tudo que pode a estes mesmos alunos. Foi um prazer ter aulas com Sr.ª Doutora).

 

APRESENTAÇÃO EM POWER POINT


APRESENTAÇÃO POR ESCRITO


1) Apresentação do Livro
     1.1 Referência Bibliográfica
     1.2 Tema e Problemática a Desenvolver
2) Estrutura por Capítulos
     2.1. Principais Capítulos
     2.2. Síntese da Informação por Capítulos
     2.3. Identificação do Capítulo Alvo de Intervenção/Justificação da escolha
3) Análise do Capítulo em Estudo
     3.1. Numeração dos Géneros de Texto
     3.2. Estrutura e Formação Individual, por Género
     3.3. Situações com Empregabilidade Prática dos Géneros Estudados
4) Conclusão
     4.1. Síntese do Exposto com Recurso ao Saber Empírico
     4.2. Actividades Práticas (tema à escolha)



O que se diz e o que se escreve

A língua escrita não é uma simples transcrição do que falamos; está mais subordinada às normas gramaticais. Portanto requer mais atenção e conhecimento de quem fala. Além disso, a língua escrita é um registo, permanece ao longo do tempo, não tem o carácter efémero da língua falada.


Linguagem Denotação e Linguagem Conotação
(Fonte: http://www.juliobattisti.com.br/tutoriais/jaquelinesilva/literatura001.asp)

A linguagem denotativa é basicamente informativa, ou seja, não produz emoção ao leitor. Caracteriza-se por uma informação massiva com o único objectivo de informar, como se verifica nos jornais, em embalagens de remédios, em manuais de instruções etc., inversamente a linguagem Conotativa, que é uma linguagem carregada de emoções e sons.

Exemplo:
Linguagem denotativa: “João José Gualberto, vulgo Sorriso, foi preso na madrugada de ontem, no Beco da felicidade, por ter assaltado a Casa Garson, de onde roubara um lote de discos. (...)”
Linguagem conotativa: “O Sorriso roubou a música e foi preso no Beco da Felicidade. (...)”



Escrever não é Falar

     a) Os textos escritos devem ser redigidos de forma simples, equilibrada e bem estruturados, potenciando assim a capacidade do ser humano através da lógica com informação clara.

     b) A preocupação com o que se escreve é, além de outras coisas, uma forma de demonstrar respeito a quem lê os textos.

     c) A escrita está sempre presente na vida familiar, desde o simples recado até às cartas que possibilitam a comunicação á grandes distâncias.

     d) Trabalha alguns géneros textuais que documentam “as escritas da nossa vida” (Martins, 1990:236): cartas de amor, telegramas, recados escritos, bilhete-postal e convites formais e informais.



Conclusão
A linguagem escrita permanece inalterável na inércia do tempo, ao inverso da linguagem oral. Porém, esta última possui particularidades que facilitam a sua percepção como a entoação, o ritmo, utilização de gírias, expressões populares, repetição das mesmas palavras, etc., tornando-a mais fácil de compreender.




A língua portuguesa possui muitas variedades linguísticas, e estas variedades, sofrem preconceitos porque algumas são desvalorizadas socialmente.

O ensino da língua é uma educação contínua e para a escola ensinar a mesma, sem diferença, é preciso, livrar-se de dois grandes mitos; que “escreve-se como se fala e que existe uma única forma de falar, pois é necessário enfocar que não existe fala certa ou errada, e sim forma inadequada de falar”.

Daí ensinar a língua é promover actividades através das quais os sujeitos reflectem sobre a linguagem nos seus diferentes contextos de uso.

Se a linguagem oral varia de acordo com a situação social, é necessário que a escola utilize textos variados em diferentes situações comunicativas que atendam uma demanda social, pois eles possibilitam condições para o aluno fazer uso adequado da linguagem.

Conclusão com Base no Saber Empírico

A fala e a escrita são imprescindíveis à condição social do Homem Moderno e devem coexistir num processo de complementaridade.

A língua portuguesa tem algumas variedades linguísticas que são alvo de preconceitos através da desvalorização social.

Se a linguagem oral varia em função da posição social torna-se imperial que as escolas básicas introduzam mecanismos que possibilitem condições para o aluno fazer uso adequado da linguagem. Contudo, é importante referir que não existe linguagem boa ou má, mas sim linguagem melhor ou menor adaptada às necessidades de uso.

A aprendizagem da língua falada e escrita é contínua. Quando as pessoas, em criança, não interiorizam esta necessidade e numa fase adulta se apercebem desta necessidade devem procurar corresponder aos seus anseios e necessidades presentes perspectivando o futuro.

Martins (1990:226) refere o seguinte: “…o nível destas aptidões é muitas vezes o cartão de visita que apaga ou ilumina os sonhos de uma vida…”

Será a afirmação verdadeira?



Alteraçoes da Escrita face ás Novas Tecnologias



De acordo com Babo (2000:159) a escrita pode ser decomposta em Mecânica (fixa) e Digital (móvel). A crescente evolução das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) atribuiu novas configurações à escrita, inovando os materiais primitivos da sua utilização: substituição do papel e da caneta pelo teclado digital e, mais recentemente, por comandos de voz, que informaticamente interligam a escrita à voz do utilizador.

Enquanto a escrita tradicional pode ser considerada como linear e acabada, a escrita digital, ou hipertexto, torna-se um produto deslinearizado e alterável.

O hipertexto “ (…) deixa ao leitor a opção de recompor o texto, (…). A função do autor desloca-se no sentido do leitor, que participa da composição ou da formatação do texto pela virtualidade. A cada leitor, a cada leitura, um novo texto; e a autoria se faz substituir pela co-autoria…”. (Marinho, 2001:181).

Este ponto de vista não é homogéneo entre os eruditos. Contudo, parece-me evidente que o hipertexto pode permitir aos seus utilizadores a passagem de uma primeira leitura – linear – para a exploração sequencial – deslinearizada – do texto, ou seja, estimular uma leitura mais fácil e flexível, permitindo alterar o objectivo inicial, em função das ideias emergentes.

Este novo suporte permite armazenar mais informação, preservá-la por mais tempo, mas por outro lado, permite a destruição da informação associada a erros humanos, independentemente da vontade do utilizador. Em ambiente hipertextual, aponta-se como negativa a deslinearização que deriva da alteração da sequência das páginas devido à sucessiva activação de janelas, e pode afastar o pensamento das ideias iniciais.

Outra das questões que se colocam ao hipertexto é a definição de autor. Na antiguidade pré-clássica e clássica, os “génios”que contribuíram para o desenvolvimento das sociedades estavam geralmente mais desligados da questão da autoria. Os escrivãos, ao reescreverem os livros, introduziam alterações no corpo do texto. Não identificavam o autor, ou colocavam o seu nome como autor. Assim o hipertexto actual recupera aspectos que existiram no passado.

A noção de autor é um conceito heterogéneo: o autor é um criador, mas pode simultaneamente ser um “tradutor”.


Referencias Bibliográficas:

BABO, A Maria (2000), Alterações da escrita face às novas Tecnologias, p. 159-162 in ARAÚJO, M Luís (cord.) A Escrita das Escritas. Fundação Portuguesa de Comunicações, Estar Ed., Lisboa.

MARINHO, Marildes (Org.) (2001), Ler e navegar: espaços e percursos da leitura, Mercado de Letras, São Paulo.


Práticas Textuais: Arts et sciences du texte de Rastier (2001)

Nesta citação de Rastier (2001:22), retirada do livro Arts et sciences du texte, o autor assume uma posição próxima de Marcuschi (2001) e mais distante de Duarte (2003).

Os géneros textuais, na perspectiva de Rastier, são caracterizados individualmente por uma estrutura particular, que define as situações em que devem ser aplicados pela sociedade. Assim, cada género textual é regido por normas linguísticas, já convencionadas, que permitem reconhecer cada género pelas condições de produção que lhe estão associadas e pela sua estrutura.

O autor não defende uma formação textual universal estandardizada, de boa qualidade, mas sim princípios de boa formação, adequados a diferentes géneros textuais, que se adaptem às práticas sociais, podendo ambos (géneros e práticas sociais) evoluir ao longo dos tempos, dada a constante mutação a que o mundo e as sociedades estão sujeitas.

Do meu ponto de vista, desde a publicação da obra de Rastier (2001) até à actualidade, a evolução dos géneros textuais não implicou um enriquecimento da textualidade, uma vez que, em alguns casos, se verificou uma proliferação de géneros que trouxe consigo um superficialismo atroz, bem como, em certos casos, um enviesamento das estruturas vigentes (nada que o autor não preconizasse nos seus pensamentos). Tal facto é visível quando o autor menciona que: “… novas práticas sociais podem amanhã suscitar géneros hoje imprevisíveis…” (Rastier, 2001:22).

A título de exemplo, a internet, o chat, o mIRC e o messenger, são diferentes formas de linguagem que circulam socialmente e que têm introduzido imensas alterações à estrutura da língua, ainda que de um modo informal.

Marcuschi (2001), no seu trabalho, aborda os géneros textuais bem como a distinção entre fala e escrita, uma vez que as considera complementares no contexto das práticas sociais e culturais. Segundo o autor, os géneros textuais são métodos de utilização da língua (seja de forma escrita ou oral), e os usos que fazemos da língua é que determinam as estruturas/formas linguísticas a adoptar: “São as formas que se adequam aos usos e não o inverso” (Marcushi, 2001:16).

O autor, não querendo sobrepor a fala à escrita (ou vice-versa) refere uma alteração entre o passado e o presente. De acordo com a sua opinião, no passado o Homem utilizou, com mais frequência, a língua oral, enquanto que no presente a situação se inverteu, convertendo-se a escrita num bem social indispensável ao quotidiano, destacando a escrita burocrática como resultado da progressiva complexidade das organizações, afim de responder às exigências, cada vez mais diferenciadas da sociedade.

Marcuschi destaca, ainda, que existem duas dimensões de relações no tratamento da língua falada e da língua escrita: de um lado, a oralidade e o letramento, do outro a fala e a escrita.

A oralidade é uma forma de prática social, fazendo uso da produção sonora nos mais diversos tipos de géneros textuais. Por sua vez, o letramento consiste nas diversas práticas sociais que envolvem a escrita. A fala é uma forma de produção textual utilizada de modo oral, estando inserida na oralidade, enquanto que a escrita é uma forma de produção textual, que utiliza elementos gráficos e se situa dentro das práticas do letramento.

Segundo o autor, a relação estabelecida entre a fala e a escrita, num contínuo de géneros, oscila entre duas modalidades: a informal e a formal. Deste modo, existem géneros textuais que se aproximam mais da fala, enquanto outros se aproximam mais da escrita, nomeadamente a escrita burocrática e os textos académicos.
Marcuschi pretende mais do que uma distinção entre oralidade e letramento, pois considera fundamental perceber que são práticas sociais muito distintas, tendo necessidades, possibilidades e funcionalidades diferentes. No âmbito dos géneros textuais, o autor defende uma perspectiva muito próxima da de Rastier, realçando o seu contributo na ordenação e estabilização das actividades de comunicação do quotidiano.

Duarte (2003) aparece como uma autora em ruptura com os dois autores anteriores. Esta gramaticista trabalha os mecanismos de organização textual, do ponto de vista das regras a que a linguística se obriga (coesão textual, conectividade conceptual, estrutura temática e estrutura informacional), ao contrário de Marcushi, que trabalha os géneros como instrumentos de comunicação, ou seja, o uso da língua nas práticas sociais.

No capítulo em análise, que a autora assina e integra na Gramática da Língua Portuguesa, não se verifica um aprofundamento da textualidade, surgindo apenas ténues referências (de carácter introdutório) aos aspectos linguísticos da organização textual. Assim sendo, é visível uma ruptura explícita relativamente à aplicação de géneros textuais nas práticas sociais, referidas por Marcushi.

A distinção de conteúdos entre os trabalhos de Marcuschi e de Duarte, advém da formação académica dos dois autores. Todavia, esta assimetria traduziu-se num acréscimo de qualidade, na medida em que Marcuschi aprofundou os géneros textuais aplicados às práticas sociais, enquanto que Duarte desenvolveu as regras que regem a aplicação da língua. A fusão destes dois trabalhos seria fundamental, uma vez que eles complementam e podem constituir um instrumento valioso na aprendizagem dos alunos de Ciências da Linguagem.