19/12/07

4. A economia brasileira nas 2 últimas décadas: o crescimento urbano e as actividades do sector terciário

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4.1. O colapso do modelo de desenvolvimento

De 1980 a 1989, no período dos governos João Figueiredo e José Sarney, ocorreu uma profunda deterioração da situação económica e social no Brasil, conforme fig.17.


Fig. 17 – Crescimento da Economia Brasileira ao longo do século XX (taxas anuais)




Os anos 80 ficam marcados por uma elevada subida das taxas de juro, traduzindo um aumento na inflação para percentagens que tornam quase ingovernável um país, conforme fig. 18.


Fig.18 – Evolução da Inflação no Brasil no século XX. Média do IPC por décadas (escala logarítmica)




O Brasil para conseguir o desenvolvimento económico nos anos 70 tinha-se endividado, dívida que nos anos 80 já havia triplicado. Os encargos começaram a ficar incontroláveis e a dívida “rebentou” instalando-se uma crise financeira no sector público, que se agravou ainda mais nas décadas seguintes. Um dos efeitos imediatos é que a sociedade habituada a viver com o Estado forte (com mais receitas que despesas), protector e desenvolvimentista, passa a conviver com um Estado deficitário, em crise profunda à mercê dos seus credores. O crescimento da economia é muito baixo, o desemprego aumenta e a população emigra para os E.U.A., Japão, Europa, sobretudo Portugal.

A partir de 1940 as grandes áreas metropolitanas, nomeadamente São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, foram vistas como a alternativa de melhoria das péssimas condições da vida rural. Em 1940, cerca de 18,8% da população brasileira era urbana e em 2000 essa proporção era de 82%, aproximadamente (UN-HABITAT, 2007:188-189), o que permite classificar o Brasil no grupo dos países mais urbanizados sendo que perto de 30% dessa população vive em apenas 9 metrópoles.

Cerca de 50% da população residente nas áreas metropolitanas do Rio de Janeiro e São Paulo moram em favelas ou em loteamentos ilegais na periferia de parques habitacionais de luxo. Contudo, os problemas urbanos não se limitam apenas às áreas metropolitanas, mas também às cidades médias [nota 13] (entre 100.000 e 500.000 habitantes) que estão a crescer a taxas mais altas do que as áreas metropolitanas. Estas áreas ainda mantêm uma qualidade de vida melhor do que as grandes metrópoles, devido à presença da natureza e à menor densidade demográfica. Contudo, o rápido crescimento está a originar em paralelo o crescimento de favelas, crianças abandonadas, sem abrigo e mendigos, congestionamentos, acidentes de aviação, poluição da água e violência urbana, ainda que em percentagem inferior ao desenvolvimento demográfico, e sem comparação aos problemas existentes nas grandes metrópoles.

Neste ponto podemos considerar o Brasil um país “ainda mais” subdesenvolvido, já que a agricultura que pratica é para exportação antes de satisfazer as necessidades da população que se encontra ainda numa situação de elevada carência, e onde a indústria produz para o consumo de luxo antes de produzir o necessário para colmatar as carências do maior extracto social brasileiro. Assim, é imperial reconverter a indústria, para que sirva as necessidades dos cidadãos e não as dos grupos internacionais, e reconverter a agricultura, de forma sustentável.

Em 1990, iniciou-se o processo de introdução do modelo neoliberal no Brasil, para facilitar a entrada de capitais externos, devido à inexistência de poupanças internas para investimento. De 1990 até ao momento, o governo Brasileiro tem adoptado medidas recomendadas pelo FMI e pelo Banco Mundial, para estabilizar a economia, combatendo a inflação e a realização de reformas estruturais.

4.2. As perspectivas no contexto do MERCOSUL

A par deste caminho o Brasil integrou-se no grande bloco económico Sul-americano denominado MERCOSUL, esboçado em 1986, pelos então presidentes Raul Alfonsin, da Argentina, e José Sarney, do Brasil, tendo sido criado oficialmente em 1991, e adquirindo personalidade jurídica em 1994, marcando o fim do período de transição.

O MERCOSUL abrange uma área aproximadamente de 12 milhões de quilómetros quadrados, repartidos pelos cinco países membros, detendo o Brasil cerca de 8,5 milhões.

O Brasil destaca-se por constituir um "gigante" populacional no seio do MERCOSUL, e o Uruguai um "anão", pelo que é fácil compreender o potencial de mercado económico que é o Brasil, no seio desta organização económica. Do conjunto dos países membros, destaca-se o Brasil com maior número de habitantes, cerca de 190 milhões; 4 vezes mais habitantes do que o segundo país mais populoso, a Argentina com perto de 40 milhões de habitantes, da Venezuela com cerca de 26 milhões e finalmente o Paraguai e o Uruguai na ordem dos 6 milhões e 3 milhões de habitantes, respectivamente (Banco Mundial, 2006).

Dentro dos membros do MERCOSUL há conflitualidade latente entre o Brasil e a Argentina que tem criado alguma instabilidade política, nomeadamente através da desvalorização da moeda brasileira em 1999.



Relativamente ao IDH, a Argentina e o Uruguai possuem o índice mais elevado (0,9) colocando o Brasil num nível inferior (0,8).

O MERCOSUL é a mais recente experiência de integração da América do Sul, é sem dúvida, uma das mais bem sucedidas iniciativas diplomáticas da história do continente. Os blocos económicos que já existiam, por exemplo a UE influenciou muito a formação de MERCOSUL, nos seus princípios fundamentais.
UE e MERCOSUL têm interesses comuns, tais como: razões de natureza económica, tendência para alargar as suas cooperações e aprofundar os laços transatlântico, dinamizando os projectos de interacção etc. Neste sentido, os blocos contribuíram para a elaboração das normas mundiais e evitar uma universalização cingida à praxis americana, uma vez que os restantes actores mundiais: a Ásia, a Africa, o mundo Árabe têm tido pouca influência neste processo.

A UE e o MERCOSUL têm contribuído para um maior equilíbrio entre os vários espaços mundiais uma integração e multilateralismo progressivo (não têm um sistema de bloco fechado), com desejo de alargar as fronteiras mediante a realização de acordos regionais, com objectivo de liberalização do comércio, conforme as regras da Organização Mundial de Comércio (OMC).

O objectivo dos dois blocos económicos (UE e MERCOSUL) não é isolar a potência americana, mas sim impulsionar a multipolaridade onde a América Latina, Europa e os outros blocos económicos possam ter “uma palavra a dizer”, estabelecendo acordos de cooperação mútua, que visam enfrentar a globalização económica.


NOTAS:

[1] Ex. Florianópolis, Aracajú, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto


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