11/11/07

5. Reflexão Final


Através das duas últimas perguntas anteriormente analisadas, irei analisar a relação entre os dados obtidos e o recente fenómeno de transnacionalismo apoiado em Portes. (Portes, 2004 [2003]).

Em relação à cultura pode constatar-se que o contacto com a cultura portuguesa não fez os brasileiros perder a sua cultura, mas sim acumular alguns traços da cultura portuguesa, culminando numa cultura híbrida, onde os valores culturais são absorvidos e reinterpretados pelos brasileiros, como defende Inda e Rosaldo.

Citando o professor Mário Murteira existe uma ameaça às identidades e culturas locais submersas numa cultura global, no sentido que trabalham em rede em todo o mundo para desenvolverem o país de origem em “sistema em cadeia”. (Murteira, 2003).

Os brasileiros entrevistados caracterizam-se por uma etnicidade linear, transportando a sua cultura para Portugal através de festas, da religião (abrir igrejas) alimentação e indumentária. Contudo convêm referir que todos os entrevistados são elementos de uma primeira geração.

Os sinais de transnacionalismo são evidentes. Aliás a cultura e a própria vivência dos brasileiros está “carregada” de transnacionalismo, exemplo: têm que estar sempre em contacto com alguém, são abertos e gostam de companhia. O facto de terem sempre presente no subconsciente a ideia de regressar ao Brasil, em conjunto com a evolução das TIC, permite de forma muito rápida e eficaz praticar tipos de transnacionalismo, como telefonar ou “teclar” via internet com os seus familiares, mantendo laços.

De acordo com Portes “o transnacionalismo representa uma perspectiva nova, não um novo fenómeno” (Portes, 2004 [2003]). Os dados recolhidos demostram que existem actividades transnacionais e que elas sempre existiram, ainda que em menor dimensão devido aos arcaicos métodos de comunicação. Pode-se assumir que a colonização foi um dos principais marcos de partida para o seu desenvolvimento, tendo atingido o boom na era da tecnologia nos anos 90 manifestando-se até à actualidade.

As cinco conclusões que foram descritas por Portes com algum consenso científico estão claramente dentro dos resultados apurados nas entrevistas. Contudo, existem duas conclusões de Portes que se identificam claramente com os imigrantes entrevistados: “o transnacionalismo é um fenómeno popular de base” (idem) que apesar de ser bastante importante em actividades governamentais e das ETN (Empresas Transnacionais) também são importantes os movimentos de actores de base privada como os imigrantes.

A segunda conclusão do autor refere que “o transnacionalismo imigrante tem consequências macro-sociais” (idem) estando patente esta conclusão na vida destes emigrantes em actos como: enviar remessas para ajudar os filhos ou outros familiares, para pagar dividas que tenha contraído no país natal, para ganhar dinheiro e regressar à sua terra e comprar um casa/negócio próprio. A influência dos imigrantes sobre o território tende a dar uma nova forma urbana e hábitos culturais modificando a matriz típica do espaço, sobretudo na arquitectura que implementam com a construção de casas com sinais de riqueza “europeia”.

Um vasto conjunto de imigrantes com actividades pontuais em conjunto com alguns activistas, podem modificar a estrutura social e económica. No caso dos emigrantes brasileiros ainda existe uma revolta, já que estão a enviar remessas ajudando o seu país e este não se dignifica a clarificar onde é investido o dinheiro e a demonstrar aos seus imigrantes que estão a fazer a escolha acertada.

Contudo, existe alguns factos do texto de Portes que não se evidenciam nas respostas dos brasileiros entrevistados por mim. Exemplo, estes não demostram sinais de empreendedorismo transnacional mesmo que anualmente progridam em habilitações literárias.

Todavia, de acordo com Portes e do meu ponto de vista ainda é necessário aprofundar esta temática, abrindo mais horizontes, no sentido de se encontrar uma abordagem metodologicamente mais diversificada.

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