Há meio século, toda a área actual do parque das nações sofria um processo de transformação física, de forma a se ajustar ás necessidades de Lisboa. Assim, aqui se implantaram indústrias de forma alheia a critérios de ordenamento, sendo que, na data em que este tipo de indústrias fora instalado, corresponde a um período no qual eram ainda incipientes as preocupações ambientais e os meios técnicos para as materializar. Esta industria utilizava o mar para poder movimentar as matérias-primas (ex. refinaria) e da excelente centralidade desta área em relação a todo o território nacional e em relação á rede de transportes.
Por ser um subúrbio muito próximo de Lisboa, e existir falta de zelo pelo espaço, devido á presença da indústria, conferiu a esta área uma imagem negativa e passou aqui a depositarem-se os lixos de Lisboa. Há semelhança de Lisboa, é na zona oriental das cidades europeias que os lixos das suas capitais são depositados, existindo uma clara preferência pela área ocidental das cidades.
Com o passar dos anos, as indústrias tornaram-se obsoletas, a malha urbana foi crescendo alcançando estas, e assim tornaram-se incompatíveis, não correspondendo ás necessidades de Lisboa nem da população, e tornando-se incompatível com a qualidade de vida exigível a uma capital europeia do fim do século como a seguir se demonstra.
A refinaria envelhecera irremediavelmente, destoando na nova geometria da cidade, através do vasto conjunto de cilindros de combustível e de tubagens existentes, originando um aspecto irreal á noite e parecendo durante o dia um complexo “puzzle”, numa enorme área ribeirinha. Em redor da refinaria, três outras companhias petrolíferas vieram também instalar os seus tanques, o que agravou ainda mais o impacto ambiental e visual.
A Doca, era o local onde estacionavam os Clippers da Pan American que cruzavam o Atlântico, mas que com o passar do tempo este velho Aeroporto Marítimo de Lisboa encheu-se de lodo e caiu no esquecimento. Na antiga área do Porto de Lisboa, ocupando a faixa ribeirinha de quase 5 km, as actividades com ligação directa ao Tejo eram muito poucas, e as que ainda havia relacionavam-se com a extracção de areia ou também pequenas unidades navais.
O Matadouro, edificado há largos anos, com a forte expansão da malha urbana, não poderia conviver com novos bairros a criar mesmo a seu lado, estava desajustado para a necessidade da área, pelo que foi necessário reintegra-lo noutra área mais apropriada.
O parque imobiliário era muito antigo, em alguns casos sem as mínimas condições, totalmente degradado, que através do redimensionamento deste espaço, permitiu ás famílias que aqui residiam, a oportunidade de uma casa digna, que de outra forma não seria possível, libertando-as do risco de desabamento destes prédios, nomeadamente o telhado, podendo fazer vitimas. As pessoas que aqui residiam eram na sua maioria grupos sociais marginalizados, minorias éticas e situações de efectiva pobreza. Este parque imobiliário era construído por habitação mas também por armazéns, em alguns casos com portas semicerradas que se não fosse a Expo`98, a inércia dos tempos tudo ali deixava permanecer, por muitos mais anos.
O depósito de Material de Guerra, era um autêntico cemitério de material bélico e um grande armazém de armas em fim de vida, sem utilidade. A proximidade de aglomerados urbanos tornava o depósito de Beirolas um incomodo para os cidadãos, criando um forte impacto ambiental, e ao mesmo tempo constituindo perigo, havendo a possibilidade deste material ser reutilizado, numa situação de roubo.
Assim esta unidade foi removida desta área, e colocada numa área mais afastada, em Alcochete.
Assim, em Beirolas o abandono gerou desleixo, atraiu o lixo a esta área, e tornou-se no palco de toda a imundice. Os cidadãos começaram a utilizar esta área para fazer descargas de entulho ilegais, onde não existia respeito pela lei; passou a receber todo o parque automóvel que era abandonado nas ruas da capital, tornando esta área o caixote de lixo do capital, criando um enorme impacto visual, que se acentuava devido á falta de organização na área destes resíduos. Para alem destes, existia ainda um odor característico das centenas de toneladas de lixo da capital que iam para Beirolas, afim de ser depositado no aterro sanitário. Este não reunia condições de funcionamento, tendo uma tecnologia antiquada, onde durante anos Lisboa acumulou ali milhares de toneladas de resíduos, lançando ocorrências para o Tejo e libertando metano para a atmosfera.
Ao nível desta tragédia ambiental, estava o rio Trancão, que no seu trajecto ate ao Tejo, recebia a poluição equivalente a 1,2 milhões de habitantes, tornando-se num rio morto com grau zero de oxigénio. Este foi despoluído para a Expo`98 e regularizado o seu caudal, demonstrando após 8 anos elevados níveis de poluição.
Em relação aos comboios e á rede ferroviária, pode-se afirmar, que foram eles que trouxeram a indústria para Lisboa Oriental, de forma a fazer a passagem entre terra e mar dos produtos. Cedo perdeu a importância de outrora, devido á falta de investimento nas infra-estruturas, provocando o fecho destes apeadeiros, que só observavam antes da reestruturação desta área para a Expo`98, os comboios a passar a grande velocidade.
Porem, apesar de todos estes problemas existentes nesta área, a estação de Tratamentos de Águas Residuais de Beirolas, era uma infra-estrutura ai pertencente, que não pertence ao padrão de degradação geral. Recentemente construída segundo as mais modernas tecnologias junto á nova ponte sobre o Tejo, esta foi a única infra-estrutura que sobreviveu e actualmente serve as novas urbanizações que ai emergiram. Todos estes problemas apontados persistiram durante algum tempo devido á falta de capacidade do Estado para reanimar esta área oriental de Lisboa, que só viriam a ser resolvidos através da intervenção da Expo`98.
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