22/07/08

Definição de Abissal; Abyss; Abyssal

Apesar do desenvolvimento científico ter impulsionado o conhecimento geral do mundo, e em particular dos oceanos, o conhecimento do homem nesta área ainda é reduzido, devido às dificuldades que a profundidade a que estas áreas se localizavam provocam, e também pelos custos que acarretam em recursos e materiais.
Nos primeiros estudos realizados sobre esta temática, as explorações ao fundo do oceano foram feitas através de cabos de chumbo lançados da superfície da água, o que não foi totalmente fiável e foi muito trabalhoso (Fig. 1).

Fig. 1 – Métodos utilizados na exploração dos fundos Oceânicos
Fonte: Jones, 1985: 221


“ (…) As observações directas são feitas por homens-rãs (1) e escafandristas (2), em sinos submersíveis (4) e batíscafos (5), enquanto as indirectas se fazem por meio da fotografia (11). As sondagens acústicas processam-se a partir de um só barco (3) e a sondagem sísmica a partir de um ou mais navios (6). A medição de ecos (9) só pode realizar-se em águas pouco profundas. Recolhe-se amostras do leito por meio de pinças (7), dragas (8) e perfurações (10). Para o fundo do mar, o método cartográfico mais rápido é a exploração aérea geométrica (12) …” (Jones, 1985: 221).




Actualmente, o estudo do fundo oceânico é feito com recurso a tecnologia de ponta e com técnicos especializados, recorrendo a sondas de eco instaladas em navios especiais, que lhes permitem registar a profundidade de forma rigorosa em papel. Depois os dados são transferidos para cartografar automaticamente em cartas marítimas.
Os satélites também se juntam aos cientistas que estudam a oceanografia e são uma mais valia para ajudar a descodificar o fundo do mar, sem que seja necessário a presença humana e gastos acrescidos em materiais náuticos.
O termo abissal refere-se aos maiores fundos oceânicos, cuja profundidade tem divergências entre autores. As planícies abissais localizam-se entre 3000 e 6000 metros Para Dias (S/d), entre os 2200 e 5500 (Small & Witherick, 1986) e entre 4000 e 6000 metros (Gerwin, 1972).
As planícies abissais foram identificadas pela primeira vez em 1947, “ (…) ano em que o navio de investigação Atlantis, propriedade da wood´s Hole Oceanographic Institution Massachusetts e equipado com sondas acústicas de profundidade, descobriu uma região notavelmente plana no extremo inferior do canhão de hudson…” (Jones, 1985:228), tornando esta data um marco histórico no desenvolvimento da investigação do fundo do oceano.
As planícies abissais existem em todos os mares e oceanos com “ (…) larguras da ordem de centenas de quilómetros e comprimentos de milhares de quilómetros…” (Dias, S/d). Contudo, são maiores e mais frequentes no oceano Atlântico, com dimensões entre 1500 a 3000 Km (Jones, 1985). Menos frequentes no Índico e ainda menos no Pacífico (Dias, S/d). A morfologia e os sedimentos acumulados constituem um indício inequívoco da sua origem e permitem clarificar a sua evolução ao longo do tempo.
Fig. 2 – Áreas Abissais (azul escuro) em todo o Mundo



Com a influência das correntes oceânicas ao longo das eras geológicas foram chegando sedimentos de tipo terrígeno aos fundos oceânicos, que possibilitaram a formação das planícies abissais, através de depósitos de grandes dimensões que foram “tapando” as irregularidades topográficas pré-existentes. Quando a cobertura sedimentar que se sobrepõe ao relevo pré-existente não o abrange na totalidade, origina colinas abissais do tipo vulcânico (Dias, S/d). O conhecimento da estrutura do relevo irregular sob a coluna sedimentar (com espessura geralmente superior a um quilómetro) advêm dos perfis de reflexão sísmica obtidos nas planícies abissais.
O oceano Pacifico tem entre 80% a 85% das suas profundezas ocupado por colinas abissais devido á existência de um elevado número de fossas abissais, e estas localizam-se nas planícies abissais próximo das rampas continentais frequentemente com carácter ondulado (Dias, S/d). Na generalidade as colinas abissais “ (…) tem composição e origem análogas às proeminências extrusivas basálticas dos flancos das cristas médias oceânicas…” (Dias, S/d).
As fossas abissais, também denominadas por Fossas Oceânicas, têm uma topografia muito própria e particular. Surgem em profundidades entre os 7500 e 11000 metros (Dias, S/d), “ (…) são depressões arquedas, estreitas, longas e muito profundas com vertentes muito inclinadas…” (Dias, S/d). Têm geralmente um perfil transversal em V, com o lado continental mais engrume e estão associadas a elevada sismicidade. Contudo, a profundidade deste tipo de relevo oceânico apresenta pequenas discrepâncias; Jones (1985) afirma que este tipo de relevo encontra-se a profundidades superiores aos 10000 metros.
Fig. 3 – Características Morfológicas do Leito Oceânico




Fonte: Jones, 1985: 225


LEGENDA: (1) Canhão Submarino, (2) Plataforma Continental, (3) Declive Continental, (4) talude Continental, (5) Planície Abissal, (6) Montanha Marinha, (7) Arcos de Ilhas, (8) Fossa, (9) Falha de Transformação, (10) vale de Fractura e (11) Crista Oceânica.



A maior fossa abissal que se conhece denomina-se Challenger Deep e localiza-se nas Marianas (Pacífico Ocidental) com 11 022 metros. Porém, existem em muitos outros locais do globo formas de relevo e profundidades semelhantes (Jones, 1985) e (Dias, S/d), sendo no oceano Pacifico que existe o maior número de fossas abissais: 17 das 20 maiores existentes no mundo (Dias, S/d).
Dentro dos depósitos abissais pode-se encontrar argila vermelha ou parda, lodos pelágicos e minerais valiosos. A argila vermelha ou parda é um tipo de rocha sedimentar, originária da lenta erosão dos granitos, ou seja, do envelhecimento natural dos cristais. É formada basicamente de silicato de alumínio hidratado, e possui uma diversidade de minerais e forma depósitos do tipo pelágico (oceânico). Os lodos pelágicos são depósitos orgânicos constituídos com “ (…) conchas e outras partes duras de organismos marinhos cobrem grandes zonas do leito profundo do mar…” (Jones, 1985:226). O fundo do oceano possui “ (…) o maior corpo mineral contínuo do planeta…” (Jones, 1985:226), bastante valioso e apetecido pelo homem. Contudo, as dificuldades que se apresentam à exploração deste recurso têm permitido que ele perdure em significativa quantidade apesar da sua localização já ser conhecida.
Estes sedimentos referidos anteriormente, que se verificam no fundo do oceano, surgem a partir do vulcanismo, nos corpos dos organismos vivos e na erosão de rochas terrestres.
Nas profundezas do oceano não existe luz e não há vida vegetativa, mas existem várias espécies animais que habitam estas áreas onde o aumento da profundidade provoca diferenças de temperatura, de alimentação, de oxigénio e difícil reprodução (Esparteiro, 1980). É nestas áreas que habitam os organismos bênticos, estranhas espécies de peixes escuros e com uma fisionomia temida pela maioria dos seres humanos.


Fig. 4 – Lophiiformes, espécie que habita as áreas Abissais


São formas de vida extremamente peculiares. Alguns são de grande dimensão outros de pequena, com capacidade para digerir presas com o dobro ou o tripulo da sua dimensão.
A cerca de 3 Km de profundidade habita a espécie ceratióides, descoberta na década de 1830 por um marinheiro dinamarquês (Branco, 2004). Para evidenciar o choque visual que estas espécies criam no ser humano, a figura 4 apresenta a ordem de peixes Lophiiformes, tradicionalmente uma classe abissal com capacidade de adaptação a reduzidas condições de habitabilidade.
Neste capítulo foram analisadas as formas do fundo oceânico com designação de “Abissal”. Contudo, as áreas abissais têm formas de relevo, como os Canhões Submarinos, as Montanhas Marinhas, Vertentes Arquipelágicas, Guyots, Cristas Oceânicas e Assísmicas, Zona de Fractura, Sulco Marinho ou Canal Abissal e Arcos Insulares.



Bibliografia
BRANCO, Joana (2004), As Profundezas, p. 193-212, in Jornadas do Mar (Org. Escola Naval, 2004), Actas do colóquio: O Mar: Um Oceano de Oportunidades, Ed. Marinha Portuguesa, Alfeite.

DIAS, Alveirinho (S/d), Fisiografia dos fundos Oceânicos/Bacias Oceânicas/Planícies Abissais, em http://w3.ualg.pt/~jdias/oceangeol/1_INTRODUCAO/index1.html acedido em 7 de Abril de 2008 às 22:35 horas.
ESPARTEIRO, António (2001 [1980]), Dicionário Ilustrado de Marinha, Clássica Editora, Lisboa.
GERWIN, Robert (1972), O Sétimo Continente in O Grande Livro dos Oceanos, Selecções do reeder´s Digest, Lisboa.
JONES, Emrys (dir.) (1985), Grande Enciclopédia Geográfica, Vol. 5 e 6, Ed. Verbo, Lisboa.
PÓVOAS, António, VAU, Sílvia (2004), O Mar como Fonte de Sustento: Azenha do Mar, p. 239-241, in Jornadas do Mar (Org. Escola Naval, 2004), Actas do colóquio: O Mar: Um Oceano de Oportunidades, Ed. Marinha Portuguesa, Alfeite.

SMALL, John, WITHERICK, Michael (1986), A Modern Dictionary of Geography, Edward Arnold Ltd., Grã-Bretanha.
ZONA ABISSAL (S/d), em http://pt.wikipedia.org/wiki/Zona_abissal acedido em 5 de Abril de 2008 ás 20:47 horas.

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