21/06/09

Enlace de D. Afonso V com Joana de Beltraneja

O rei de Castela, Henrique IV, que governou entre 1454 e 1474, teve um reinado conflituoso devido a guerras civis. O seu reino já não lhe temia a autoridade autoridade e poucos lhe tinham respeito.

Quando Henrique IV, rei de Castela morre em Madrid (12 de Dezembro de 1474), a sua irmã Isabel foi aclamada rainha. Henrique IV estava casado com D. Joana, irmã de D. Afonso V, rei de Portugal e tinha tido uma filha (em 1462) que deveria ser a herdeira do trono. Porém, dizia-se que Henrique IV de Castela era impotente e que essa filha não era dele, mas sim, filha de um nobre D. Beltrán de La Cueva. Face às pressões o monarca acabou por a deserdar, tendo sido apelidada de Joana a Beltraneja.

Como é frequente nestas situações o reino de Castela ficou dividido: parte da nobreza apoiava D. Isabel e outra parte apoiava D. Joana (volume V, Nova História de Portugal, Cord. João José Alves dias, pág. 689). Deu origem a uma guerra civil em Castela que iria evoluir para uma guerra entre Portugal e Castela.

Portugal e França olhavam com desconfiança para esta situação: ao reinar Isabel significava a formação um novo e poderoso bloco peninsular, ou seja, uma ameaça para os reinos vizinhos porque estava casada com Fernando, herdeiro da coroa de Aragão. Também os senhores feudais castelhanos tiveram uma palavra a dizer e colocaram-se ao lado do rei português, pretendendo em detrimento da união de Castela, Leão e Aragão, a formação de um bloco Atlântico, com a união entre Castela leão a Portugal, impondo somente uma condição a D. Afonso V: que este casasse com D. Joana Beltraneja, ainda sua sobrinha, já que era filha da sua irmã, D. Joana rainha de Castela. Aceitar esta proposta significa guerra.

Afonso V aceita a proposta dos senhores feudais castelhanos, passa a regência do reino ao seu filho e futuro rei, D. João II, e invade a Estremadura castelhana. Isabel de Castela outorga uma carta ordenando que se fizesse guerra a fogo e sangue e se destruísse o reino de Portugal, tornando esta guerra internacional. Face a esta conjuntura, a França com alguma hesitação ajuda Portugal e constitui-se um exército que vai enfrentar o exército de Castela e Aragão na lendária batalha de Toro. As forças de Afonso V foram derrotadas. Porém, um mal entendido fez com que ambos os reinos se considerassem vitoriosos na batalha de Toro; isto porque: como era uma guerra internacional, o príncipe D. João deixou a regência à sua mulher, D. Leonor, e foi auxiliar o seu pai. Quando lá chegou permaneceu no campo de batalha durante três dias e pensou que tinha ganho a guerra. Porém, já antes o seu pai, D. Afonso V, tinha perdido a guerra e tinha fugido, atitude que também tomou o exército de D. Fernando.

Afonso V regressou a Lisboa, formou uma frota e partiu para França para combinar uma estratégia de ataque com Luís XI a D. Fernando, mas a viagem por vários motivos não sortiu qualquer efeito prático. Os ataques entre a fronteira portuguesa e castelhana continuam por parte de ambos os reinos e D. Afonso V mandou reunir cortes e contraiu um empréstimo grande para a defesa contra uma possível e iminente ataque de Castela. Ainda pedia prata às igrejas para derreter e cunhar moeda castelhana.

Depois de uma serie de manobras, de pedidos de auxílio ao rei francês e evidente derrota dos apoiantes de D. Joana (tendo os últimos sido derrotados perto de Mérida), não existia alternativa a Portugal, senão procurar a paz com Castela.

Na busca pela paz o príncipe D. João foi a chave para a resolução do conflito. Percebendo que não era possível uma vitória bélica sobre Castela, adoptou o tradicional provérbio: se não vences o teu inimigo junta-te a ele.

Com vista a selar a paz com rapidez ofereceu o seu único filho legítimo, D. Afonso, para casar com D. Isabel, filha mais velha dos reis de Castela e de Aragão. (volume V, Nova História de Portugal, Cord. João José Alves dias, pág. 699).

Assim, a paz veio-se a conseguir em 4 de Setembro de 1479 com o tratado e acordo de Alcáçovas, que entre outras coisas definia os casamentos e educação a ser dada aos príncipes e infantes de cada uma das monarquias, a libertação dos prisioneiros de guerra, os apoiantes de ambas as fracções não seriam perseguidos e receberiam o perdão, ambas as monarquias aceitam não mais provocar danos, roubar, queimar, nos reinos vizinhos, etc. (volume V, Nova História de Portugal, Cord. João José Alves dias, pág. 699).

14/06/09

A Moeda do Portugal Moderno (séc. XV-XVI)

Para esta abordagem adoptou-se o volume V da Nova História de Portugal, cuja coordenação é da autoria de João José Alves Dias (1998) por ser a mais recente compilação de informação que incorpora esta matéria, e também, a obra de A. H. Oliveira Marques, Volume I da História de Portugal – Das origens aos Renascimento (1997).

Entre os séculos XV – XVII verifica-se a existência de boa moeda. As remessas de ouro vindas das feitorias da costa ocidental de África abasteciam o reino fazendo com que o metal não faltasse. O valor da moeda foi gradualmente aumentando para evitar que a moeda, nomeadamente a de ouro, saísse para fora do reino. A título de exemplo, a moeda de ouro de Castela era pobre, tinha um valor intrínseco inferior ao valor nominal. Assim, Castela via em Portugal uma boa forma de trocar boa moeda por má moeda.

Se por um lado existia boa moeda de ouro e com alguma quantidade o mesmo já não acontecia com a moeda de prata que escasseava por todo o reino. Somente no reinado de D. João II se conseguiu equilibrar as quantidades entre estes dois metais, “ (…) em parte graças à conjuntura internacional e, depois, à chegada da prata da América”. (João José Alves Dias, pág. 255).

A moeda era sempre cunhada em nome do rei e era feita nas Casas da Moeda, que existiam em Lisboa, Porto, e também em Beja, e nunca tinha inscrito o valor, nome, nem data da emissão tornando-se necessário conhecer o desenho, tamanho e material de fabrico para a sua identificação.

Entre 1475 e 1580 verificam-se em Portugal dois grandes ciclos: primeiro até 1550 /1555, com emissão de boa moeda com poder liberatório, e um segundo período posterior a 1555, em que a moeda não tem poder liberatório, ou seja, o valor da moeda não é proporcional com o valor do metal.

No ano de 1472 D. Afonso V para fazer face ao sangramento da boa moeda e ao entesouramento de particulares implementou uma reforma monetária que visava sobretudo diminuir a escassez da prata numa altura em que apenas “ (…) circulavam três moedas, duas em grande quantidade – os cruzados de ouro e os ceitis de cobre – e uma com grande raridade – os espadins de bolhão, prata bastante fraca”. (João José Alves Dias, pág. 256).

D. João II alem de emitir cruzados em sequência com o trabalho do seu pai, também mandou fazer uma moeda de ouro, muito valiosa, para fazer publicidade no estrangeiro demonstrando o poder da coroa portuguesa. Nesta moeda fez umas alterações: retirou todas as armas pessoais das moedas; endireitou os escudetes laterais (verticalização) e colocou 5 dinheiros em cada escudete.

D. Manuel I quando sobe ao trono o reino estava dotado de moeda boa e estável.