13/02/09

A Imprensa no Portugal Moderno (séc. XV-XVII)

São várias as teorias que dão conta do surgimento da Imprensa, sendo duas as mais acreditadas: uma primeira, afirma que a escrita veio da Xilografia da China para a Europa através da Rota da Seda, e uma segunda, baseia a origem da imprensa na ourivesaria defendendo que a escrita surgiu com os ourives, aquando da gravação de letras em peças de ouro e prata.

Os livros impressos até aos anos 1500 denominavam-se incunábulos (designa o começo/origem), e depois do ano de 1501 até 1520 foram denominados de post-incunábulos. Em Portugal o termo incunábulo designa os primeiros 50 anos de tipografia.

Os livros não eram encadernados, eram comercializados em folhas soltas, e só no séc. XIX é que passaram a ser encadernados, passando a ter uma fisionomia semelhante à verificada actualmente.

Segundo o volume V da Nova História de Portugal, cuja coordenação é da autoria de João José Alves Dias, meu professor, a tipografia teria começado em Portugal com D. Afonso V:
“ (…) Se não antes, pelo menos durante a viagem por França, nos anos de 1476-77, terá D. Afonso V contactado directamente com essa realidade e, porventura, com a produção livreira. Não nos esquecemos de que passou meses em Paris, em dois períodos diferentes, sabendo-se que participou em diversos actos, na Sorbonne, berço da topografia francesa (…)”. (pág. 490-491).

Até ao momento não é possível afirmar qual foi o primeiro livro impresso em Portugal porque poderá sempre aparecer ainda um livro mais antigo. Segundo a referida obra, terá sido em Faro que foi impresso o primeiro livro, ainda que em hebraico. O porque de ter sido em faro e não em Lisboa (maior centro cultural) poderá se justificar pelo facto do Sul de Portugal (Algarve) estar integrado agressivo comercio marítimo do mediterrâneo. O mais antigo documento impresso em Portugal e em Língua Portuguesa foi descoberto ocasionalmente recentemente e chama-se Sumário das graças: é um cartaz que estava à porta de uma igreja. Este documento descrevia o resumo da Bula de Sisto IV (1482), “ (…) que já se encontraria impresso circa 10 de Abril de 1488 [tratando-se] de uma folha volante, impressa em uma única face, para facilitar a sua afixação pública” (pág. 497).

Logo a seguir, em 18 de Abril de 1488, surgiu o Sacramental, obra de Clemente Sánchez de Vercial, com 164 folhas e mais tarde, em 08 de Agosto de 1489, surgiu o Tratado de Confison.
Apesar desta produção inicial só no ano de 1497 é que surgiu o primeiro tipógrafo português, Rodrigo Álvares. Se acordo com A. H. Oliveira Marques, Volume I da História de Portugal – Das origens aos Renascimento, até esta data as publicações portuguesas eram feitas com recurso a impressores Alemães, e mais tarde com recurso a impressores “ (…) Italianos e franceses, que passaram a controlar parte significativa da imprensa portuguesa durante muitas décadas” (1997:325).

Ainda de acordo com A. H. Oliveira Marques, foi no século XVI que a imprensa portuguesa se começou a desenvolver, publicando cerca de 1000 livros até 1550 (o que era muito inferir em relação ao mundo ocidental). Desses livros, 50% eram destinados à teologia e religião enquanto que a produção de livros científicos era somente de 10%: o que revela a importância da religião, sendo ainda os eclesiásticos os principais portadores da sabedoria e dos conhecimentos.

O século XVI em relação ao século XV não trouxe grandes alterações à produção, formato e qualidade dos livros, inclusive em relação à localização das tipografias e impressores que manteve a localização geográfica vinda do antecedente, em traços gerais: Lisboa, Chaves e Porto. Para isto muito se deve o facto de o livro manuscrito ter continuado a predominar sobre o livro impresso. Como sempre foi a desconfiança e as duvidas dos compradores: como era possível que um homem numa oficina conseguia produzia muito mais que o método tradicional com os escrivães? Era algo que não lhes entrava na cabeça (A. H. Oliveira Marques).

As duas obras indicadas até ao momento, produzidas por dois grandes historiadores são unânimes e complementam-se. Concluo que foi o desenvolvimento da universidade que permitiu o rejuvenescimento da indústria livreira, e que esta indústria é uma das mais importantes formas de fazer história.

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