14/11/08

Povoamento nos Reinos de Portugal e do Algarve no Portugal Medieval

Tendo como fontes de informação o rol de tabeliães (1290) e o rol de igrejas (1320/1321) verifica-se uma constante em ambos: Portugal Medieval registou no Norte um maior índice de povoamento em relação ao Sul com uma zona de transição no centro definida pela “Linha do Tejo”.

A partir de vários documentos (Registos paroquiais, Registos das Igrejas e Contos relacionados com sistemas fiscais) poderemos inferir, ainda que com margem de erro, a distribuição populacional de Portugal medieval.

“Em termos de organização paroquial, podemos verificar que nele se patenteia a mesma oposição entre o Norte e o Sul do país – com uma zona de transição no Centro – que José Mattoso pôs em evidência na sua obra mais célebre, definindo-os como um Norte (Atlântico) senhorial e rural e um Sul (Mediterrânico) concelhio e urbano.
De facto, o Norte, de povoamento denso e disperso, estava retalhado numa infinidade de pequenas freguesias enquanto que no Sul, onde havia menos homens mas mais concentrados, as paróquias eram menos numerosas e consequentemente mais extensas…”
(Rodrigues, S/d:71)


De acordo com a anterior citação de Rodrigues (serviu-se do trabalho de A. H. de Oliveira Marques como alicerce do seu estudo) são bem visíveis as dicotomias existentes no Portugal Medieval ao nível da população.

A existência de muitas igrejas no Norte aponta para a existência de muitos fiéis em número mas dispersos geograficamente, enquanto que no Sul predominavam núcleos populacionais de grande dimensão e muito concentrados, em relação ao norte. A igreja contribui para o reino de acordo com o n.º de fiéis que possui.

Em relação aos tabeliães (notários) a sua distribuição é semelhante à disposição das Igrejas. Locais de elevada concentração populacional vão exigir mais tabeliães em dimensões semelhantes às igrejas e vice-versa.

A Reconquista Cristã iniciou-se no Norte da Península e conheceu a direcção Norte-Sul. Portugal formou-se e alargou-se graças a este movimento militar, no qual participaram todas as classes sociais. Nos primeiros tempos os reis cristãos tiveram como apoio importantíssimo a nobreza terratenente, poderosíssima com os seus exércitos privados. Esta nobreza vivia e possuía os seus bens no Norte da Península Ibérica.

Foi pois natural que essa mesma nobreza fosse recompensada pelos serviços militares prestados na luta contra o infiel muçulmano; as recompensas à nobreza eram, sobretudo, feitas através das honras, que eram terras apropriadas pela nobreza sem concessão régia.

Mas também a igreja recebia doações, quer como recompensas reais, quer por testamento como forma de salvação das almas: eram formadas por uma doação com carta de couto.

Honras e coutos, foram pois senhorios administradas pelos senhores (nobres e eclesiásticos) que se transformaram em fonte de rendimento para os seus proprietários. Nestas vastas propriedades viviam famílias de camponeses que se tornaram na mão-de-obra necessária e que se foram estabelecendo em aglomerados populacionais dentro do próprio senhorio dando origem às vilas e aldeias.

A toponímia de algumas destas povoações revela a genealogia dos grandes senhores terratenentes da região norte do país.

Mas, ainda, fazendo uma observação mais atenta, verifica-se que mesmo no norte registou-se diferenças na distribuição das populações. Enquanto que o interior se manteve durante toda a Idade Média rural, já no litoral norte as populações se dedicavam também à pesca como forma de complementar a actividade agrícola: surgiram assim as póvoas.

Os rios e o oceano sempre foram atracções para as pessoas que os elegiam não só para a prática da pesca, mas como vias de comunicação e transporte excelentes (não se pode esquecer que no Portugal Medieval as vias terrestres eram más e perigosas). É natural que desde muito cedo as pessoas os tivessem escolhido para junto deles se estabelecerem.

Outras actividades se desenvolveram: artesanato e comércio marítimo, que estiveram na origem do surgimento de uma nova classe social: a burguesia, instalada em novos aglomerados populacionais: os burgos onde desenvolvia cada vez mais a sua actividade, tornando-se cada vez mais rica. Ainda que a designação de “Cidade” só possa ser adoptada depois de uma área geográfica possuir uma sede de bispado, foi devido aos burgos que surgiram núcleos comerciais muito importantes, que de alguma maneira estão ligados ao surgimento de novas cidades.

As principais cidades no século XII eram Lisboa, Porto, Coimbra e Santarém, todas estas fundadas junto de rios e próximas do mar.

No que respeita ao sul, foi sempre menos populoso. Este facto deve-se aos avanços e recuos da Reconquista Cristã. Durante muitos anos, Évora foi o único reduto cristão ao Sul da “Linha do Tejo”.

Foram grandes os esforços muçulmanos para manter o território a Sul do Tejo e tentar recuperar a linha defensiva do rio, sobretudo durante os períodos de domínio dos Almorávidas e dos Almóadas.

A Reconquista Cristã fez-se sobretudo graças ao contributo das Ordens Religiosas Militares, que à semelhança do que havia acontecido com a nobreza terratenente também receberam doações por parte do rei.

Era difícil fazer a exploração económica da região sul, dado os constantes ataques por parte dos muçulmanos. As terras recém-conquistadas ficavam muitas vezes desertas, sem populações para as defender e fazer o seu aproveitamento económico.

Para atrair as pessoas, o rei e os monges guerreiros concederam cartas de foral e os concelhos surgiram a pouco e pouco.


RESUMO


Norte mais populoso

Interior – Senhorios agrícolas com vilas e aldeias construídas por camponeses (servos da gleba e vilões) dependentes da terra e da vontade dos proprietários.

Litoral – Senhorios agrícolas e póvoas. Surgem devido à prática e desenvolvimento do comércio nas cidades.

Sul menos populoso

Permanência longa dos muçulmanos nesta região da península, e também menos cursos de água facilitadores da deslocação de pessoas e bens.


Bibliografia de Referência:


RODRIGUES, Ana (S/d), A formação da rede paroquial no Portugal Medievo, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.


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