10/09/08

Fichas de Leitura: Julian Steward, The Concept and Method of Cultural Ecology (1955) - História da Antropologia

a
Julian STEWARD
“The Concept and Method of Cultural Ecology”,
in Theory of Culture Change, (Urbana III,)
University of Illinois Press, 1955:30-42.

Resumo


A obra de Julian Steward foi das primeiras a chamar à atenção para a importância da ecologia versus cultura, como reforço epistemológico da Antropologia.
No capítulo em análise, O Conceito e o Método da Ecologia Cultural, o autor divide-o em cinco partes:
     - A primeira parte é dedicada ao conceito de Ecologia Cultural, que significa as consequências do meio ambiente sobre a cultura.
O autor refere também os usos que várias ciências fazem do termo Ecologia e à opinião de vários autores enquadrados nessas ciências.
     - A segunda parte é dedicada à relatividade da abordagem histórico-cultural das diferenças culturais.
     - A terceira parte foca o núcleo cultural, onde se concentram vários domínios da actividade humana.
     - A quarta parte aborda a metodologia da ecologia cultural per si: modelo de produção, o comportamento humano e a relação das técnicas produtivas com outros elementos culturais.
A quinta e última parte é dominada pelo papel da metodologia da ecologia cultural, como instrumento de análise da adaptação e da sua influência na mudança cultural.

Palavras - Chave: Ecologia cultural, ambiente, super-orgânico, adaptação, núcleo cultural, multilinearidade.

:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::


Julian Steward (1902-1972) nasceu nos Estados Unidos, tendo ingressado na universidade da Califórnia com 19 anos, onde estudou Antropologia e começou a desenvolver interesse pela relação entre o ambiente e a cultura. Daí os seus estudos também em Arqueologia, Etnografia e Geografia.

Na primeira parte do texto em análise, Steward conceptualiza a ecologia cultural como o "efeito do meio ambiente sobre a cultura".

O principal enfoque do pensamento e da obra de Stward reside no interesse em encontrar uma visão aceitável da evolução em relação às culturas. Embora defendendo a ideia de evolução, considera a diversidade humana dentro da diversidade de ambientes. Deu especial ênfase à ecologia, ás diferenças culturais e à evolução multilinear. Não aceita a existência de etapas universais de desenvolvimento, como propõe a evolução unilinear, defendida por Taylor.

O homem faz também parte da cadeia ecológica, e além de constituir um organismo biológico, é um produtor supra-orgânico; porque produz e reproduz cultura que interage com todo o ambiente ecológico. Todavia, este aspecto foi sempre deixado de fora pela maioria dos grandes estudiosos da ecologia humana e social, referindo o pensador Alihan. Outros autores como Hollingshead, Adams, e Bates sentiram necessidade, por questões metodológicas, de estabelecer uma fronteira entre "ordem ecológica" dada pela competição do indivíduo e a "organização social" dada pela comunicação.

Também os promotores da escola de Chicago, como Park e Burgess se interessaram pelo uso e ocupação dos ambientes físicos da cidade por comunidades urbanas.

Nos anos 50 do século passado, Hawley demonstra um superior interesse, relativamente aos antecessores, pelas questões culturais nos vários habitats.

Afirma mesmo, que o homem actua no ambiente mais como animal cultural do que como animal biológico, fazendo do localismo o seu principal laboratório de investigação. Deduz também que o ambiente é pouco estruturante na cultura, exercendo apenas um papel "permissivo" e "limitativo", reconhecendo também que o ambiente permite uma variedade de vida. Destas duas posições pode-se inferir que os factores históricos são mais relevantes do que os factores ecológicos para a mudança cultural e que a adaptação cultural desencadeia um processo com maior criatividade.

Na segunda parte do texto, o autor critica a posição de ecologistas e de antropólogos, afirmando que os ecologistas sociais e humanos maximizam a universalidade ecológica e minimizam os localismos culturais, e que os antropólogos minimizam o meio ambiente e maximizam a história cultural.

Apesar de não discordar de que a história também explica a cultura, alerta para a sua relatividade, porque a vida humana está organizada numa superstrutura social, como também defendera Marx e sobretudo Engels, através da sua obra, A Origem da Família, da Propriedade e do Estado, que influenciou fortemente o pensamento da época.

Na terceira parte, o autor invoca o seu modelo, que corresponde a um modelo integracionista, que tem como ponto de partida a relação ambiente - cultura.

Assim propõe o conceito de núcleo cultural, cujas características estão mais relacionadas com as actividades de subsistência e as disposições económicas, que inclui modelos sociais, políticos e religiosos.
O autor refere a tecnologia como um dos fenómenos mais importantes para a adaptação de uma cultura, sendo aqui que reside e se acentua o método da ecologia cultural, com o qual o autor entra na quarta parte da sua abordagem textual e que passo a descrever.

Para o grande mestre da ecologia cultural, o método possui três aspectos fundamentais: primeiro deve-se analisar o método de produção no ambiente, segundo deve-se analisar o modelo de comportamento humano, e terceiro deve-se compreender a relação das técnicas de produção com outros elementos da cultura, de forma mais global, como o parentesco, o uso da terra, a posse, etc.
Na quinta e última parte, o autor discute o papel metodológico da ecologia cultural, ou seja a adaptação cultural e as regularidades da mudança cultural, rompendo com os argumentos tradicionais de que só seria possível explicar a cultura através da cultura.
O principal objectivo do autor foi determinar o desenvolvimento cultural de culturas específicas e não a cultura em geral, como faziam s evolucionistas que procuravam regularidades e regras de desenvolvimento universais.
O enfoque evolucionista multilinear de Steward organiza-se à volta de modelos de desenvolvimento válidos para diferentes culturas. Ele vê no homem uma capacidade adaptativa muito mais rápida do que qualquer outro organismo vivo.


 
::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::


Queria prestar um público obrigado à Professora Doutora Gill Dias, professora Catedrática de Antropologia, por me ter ensinado tudo que aprendi sobre a História da Antropologia. O seu falecimento foi uma tragédia e estou convicto que se perdeu uma grande investigadora, uma grande professora, uma grande mulher, um grande Ser deste Mundo. Foi uma honra ter tido aulas com a professora Gill Dias.



Queria agradecer, mais uma vez, ao meu colega António Loureiro pelo seu contributo para a realização deste trabalho, sem o qual este não era possível. Amigos de faculdade, amigos pessoais, em diversas vezes colegas de grupo, nunca esquecerei duas virtudes: o atraso propositado na elaboração dos trabalhos práticos para sentir o stress da última hora, e o facto de ter um telemóvel para fazer peso no bolso porque anda sempre desligado. Obrigado pela sua assistência e espero que sinta que também o ajudei de forma eficaz e eficiente, num bonito sentimento de entreajuda.
a

Sem comentários: