10/09/08

Fichas de Leitura: Edward Taylor, A Cultura Primitiva (1881) - História da Antropologia

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Edward TAYLOR“ A Ciência da Cultura”
In A Cultura Primitiva (1871)


Resumo

As duas leituras da “ciência da cultura”, (xerox 42), levaram-me a concluir da complexidade filosófica e metodológica do texto. Para contornar o problema quedei-me nas “sobrevivências” (p. 16), a partir das quais construí o meu texto, de forma sintética, mas que abrange globalmente o paradigma de pensamento de Taylor.

Tylor é o precursor da Antropologia como o estudo do homem, sendo o primeiro professor de Antropologia.
Teoriza que a cultura humana se desenvolve de forma linear, tal como acontece com o evolucionismo biológico. Como estudioso da religião, vê nesta o melhor exemplo para a sua teoria, afirmando que o animismo e a situação dos selvagens, comparando com a cultura e o homem ocidental representam as fases desse progresso cultural.


Palavras-chave: selvagens, animismo, religião, evolucionismo, progresso, civilizados, sobrevivências.


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Taylor (1832-1917) nasceu em Inglaterra no ceio de uma família da classe média. O pai teve uma pequena indústria ligada ao latão e Taylor deixou a escola aos dezasseis anos, para ajudar o pai, nunca ingressando na universidade.

Com 23 anos contraiu tuberculose, cujo bacilo foi um dos grandes problemas do século xIx, decorrente da Revolução Industrial, com cidade apinhadas de gente, sem saneamento básico, sem água potável, populações mal alimentadas, mal agasalhadas, desprotegidas de uma saúde pública ainda incipiente, longas horas de trabalho nas fábricas em nome do desenvolvimento económico, imortalizado pela obra O Capital de Karl Marx, que viria a ficar conhecido por marxismo como corrente filosófica.

Dada a doença que contraíra, Taylor, foi aconselhado pelos seus médicos a viajar para países quentes. Partiu para os Estados Unidos, onde esteve um ano. Depois Cuba onde encontrou um amigo e conhecido: Christy que era etnólogo. Ambos viajaram para o México, país idílico e exótico. De regresso a Inglaterra publica um livro sobre de viagens sobre a sua experiência no México. As viagens foram o seu grande estímulo para ler tudo. Começou a dar conferências, a escrever artigos e o interesse pelas culturas fazem dele o primeiro autor a dar o nome de Antropologia ao estudo do Homem, tornando-se também o primeiro professor de Antropologia.

Escreveu várias obras e de entre as mais importantes sobressai Primitive Culture (1871), um livro sobre práticas e crenças primitivas. Para Ele existem leis do progresso, do tipo evolucionista, que regulam a vida espiritual e a cultura humana, tal como a biologia animal e vegetal defendido pelo evolucionismo de Darwin, que fez furor nos finais do século. Corrente esta que postula uma evolução unilinear também para a cultura material do homem, cujo estádio mais avançado está materializado na cultural ocidental.

A teoria de Taylor emana uma dialéctica entre os defensores do degeracionismo e os defensores do progressismo.

Taylor defende que a génese das crenças e das instituições culturais são o produto do pensamento racional dos indivíduos, tornando-se muitas vezes, de forma inconsciente, o modus operandi desses mesmos actores sociais.

O autor promove a ideia de que os antropólogos têm a função de descodificar e mostrar as superstições emanadas dos indivíduos, bem como outras tradições consideradas irracionais, que povoam no imaginário comportamental dos indivíduos, de forma a libertá-los de algemas psicológicas e conduzi-los a um progresso social mais rápido e mais condicente com a condição humana.

A esta visão não são alheias as influências da psicanálise de Freud, as ideias de progresso dos enciclopedistas e iluministas como Rousseau ou Condorcet ou ainda o positivismo de Auguste Comte, não esquecendo o já mencionado Darwin.

Não esquecendo nenhum aspecto da cultura humana, Taylor observa que a evolução da religião também é indicadora de fases de progresso. Talvez por isso considera o animismo como o princípio da religião, uma manifestação e a expressão mais longínqua de uma forma da religiosidade do homem, que permanece como reminiscências e sobrevivências do religioso.

Apesar de apoiar a unidade psíquica do homem e de rejeitar a influência da biologia na evolução cultural, acabou por admitir, ao fim de dez anos, que o estádio primitivo dos selvagens se devia à sua inferioridade mental, comparativamente com o homem civilizado do mundo ocidental, conforme refere na sua obra Anthropology (1881).

Retomando o texto da xerox 42 (A Ciência da Cultura), onde está implícita a oposição racionalidade versus emotividade, como metodologia de investigação em Antropologia, assiste-me lembrar que o paradigma metodológico de investigação, pós-moderno, assenta no princípio de que é o objecto que define o método, e não o método que define o objecto.

O confronto entre a metodologia de investigação das ciências ditas naturais e a metodologia de investigação das ciências sociais, neste caso a Antropologia, não faz sentido, porque “(…) toda e qualquer via possível do conhecimento deve ser explorada, cada porta deve ser experimentada para ver se está aberta.” (xerox 42:23).

Relativamente à pesquisa antropológica, o que se conclui, após modelos comparativos de culturas, é que estas já não permanecem isoladas em ilhas culturais específicas, mas caminham num processo evolutivo, fase, após fase, num determinado sentido, através do processo difusionista. A cultura da coca-cola americana, do idioma inglês, da tecnologia do plástico e da fibra sintética, da informação da CNN, ou dessa grande teia mundial do conhecimento que é a www, estão a contribuir para a linearidade e uniformidade cultural. Perante tal facto, a não linearidade manifesta-se com o regresso das “sobrevivências”, o que é de grande interesse para a Antropologia.

Além das técnicas e recursos metodológicos clássicos de investigação em Antropologia, o etnólogo para fazer ciência antropológica deve ter sempre presentes dois elementos fundamentais:
     1. A identificação do fragmento cultural que está abordar
     2. A explicação desse mesmo fragmento
Quero com isto dizer que o etnólogo/antropólogo deve transportar consigo a cartilha do jornalista com os conhecidos cinco ws:







Eis um modelo jornalístico, que advindo da literatura de viagens, pode com rigor ajudar a produzir conhecimento em Antropologia.


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Queria prestar um público obrigado à Professora Doutora Gill Dias, professora Catedrática de Antropologia, por me ter ensinado tudo que aprendi sobre a História da Antropologia. O seu falecimento foi uma tragédia e estou convicto que se perdeu uma grande investigadora, uma grande professora, uma grande mulher, um grande Ser deste Mundo. Foi uma honra ter tido aulas com a professora Gill Dias.



Queria agradecer, mais uma vez, ao meu colega António Loureiro pelo seu contributo para a realização deste trabalho, sem o qual este não era possível. Amigos de faculdade, amigos pessoais, em diversas vezes colegas de grupo, nunca esquecerei duas virtudes: o atraso propositado na elaboração dos trabalhos práticos para sentir o stress da última hora, e o facto de ter um telemóvel para fazer peso no bolso porque anda sempre desligado. Obrigado pela sua assistência e espero que sinta que também o ajudei de forma eficaz e eficiente, num bonito sentimento de entreajuda.

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