30/09/08

Galerias Romanas da Rua da Conceição em Lisboa (Portugal)

O dia 1 de Novembro de 1755 foi trágico para a cidade de Lisboa. As forças da natureza atingiram com toda a violência a capital através de um poderoso terramoto, de um maremoto e de múltiplos incêndios que destruíram quase toda a cidade de Lisboa.

Marquês de Pombal começa a reconstrução da cidade empregando uma arquitectura inovadora “gaiola” e uma malha urbana nunca vista em Portugal até esta data. As alterações profundas no processo de reconstrução da capital tiveram comentários e criticas divergentes: de um lado os conservadores, contestavam a largura das ruas entre os edifícios, de outro os modernistas aplaudiam a sua audácia e a sua perspectiva futurista.

Em 1771 na sequência da reconstrução da cidade de Lisboa descobriu-se um conjunto de Galerias Romanas localizado no subsolo da Baixa Lisboeta que serviu de alicerce à construção dos edifícios pombalinos.

A atribuição aos Romanos da feitoria deste monumento deve-se ao facto de ter sido encontrado um pedestal de calcário esculpido em latim dedicado a Esculápio, que era o Deus da Medicina Romana.

Em 1859 aquando da elaboração de obras de saneamento verificou-se a existência de restos de construções romanas localizadas por cima, sobre as galerias e deu-se início ao levantamento arqueológico das ruínas, tendo sido o principal responsável dos trabalhos José Valentim de Freitas.

Os arqueólogos em função da arquitectura e das técnicas de construção determinaram que as galerias são da época dos imperadores Júlio-Cláudios, tendo sido edificadas na primeira metade do séc. I d.C. As funções que o edifício possuía foi uma questão enigmática mas aparentava servir de Termas ou Fórum Municipal.

Em 1909 começaram as primeiras visitas às galerias com carácter pontual que visavam contribuir para investigação por parte de jornalistas, arqueólogos e historiadores. Nesta data as galerias eram denominadas pela população de Conservas de Água da Rua da Prata e serviam de poço armazenando a água que a população consumia. Através de vários estudos declinou-se as funções anteriormente atribuídas ao monumento e conclui-se que este serviria as actividades portuárias e comerciais.

Na década de 80 a população em geral começou a poder visitar este monumento; o que acontece até aos dias de hoje de forma anual, estando aberto ao publico em geral três dias por ano devido às particulares condições em que o edifício se encontra (está submerso e uma débil acessibilidade).



























Com a continuação dos estudos arqueológicos chegou-se à conclusão que o monumento fora um cripopórticos, ou seja, era uma construção abobadada utilizada pelos romanos para servir de suporte a outras construções, nomeadamente as públicas, quando os terrenos eram instáveis e irregulares. Este último estudo aponta assim para a existência de um edifício público que justifica com a existência do pedestal dedicado ao Deus Esculápio.

A dimensão do monumento ainda continua a ser uma incógnita; sabe-se no entanto que os colectores de esgoto da cidade ocupam parte deste monumento constituído por pequenos compartimentos, de forma abobada, que poderão ter sido utilizados como áreas de armazenamento e várias aberturas circulares que serviam de aberturas para o poço. Ainda se destaca os arcos em cantaria (técnica tradicionalmente romana) e uma galeria denominada Galeria das Nascentes, onde uma fractura de grandes dimensões brota a água que inunda todo o monumento.



Visitar as Galerias Romanas é maravilhoso! Todavia, não é possível esquecer ocorrências menos bonitas e desnecessárias. È de louvar a iniciativa da Câmara Municipal que desde a década de 80 abriu ao público este monumento, mas é de lamentar que desde essa data ainda exista uma elevada descoordenação na forma como são geridas as visitas.

Desde muito cedo (08:00 AM) é visível a presença de cidadãos de vários idades, uns só com uns meses outros já com “séculos”, mulheres grávidas e outros cidadãos com mobilidade reduzida, quer por excesso de peso, quer devido a deficiências físicas, mas não é visível ver ninguém a coordenar a chegada destes cidadãos, nem a zelar para que não sejam cometidas injustiças e atropelos, actos para os quais os portugueses são instruídos; de que é exemplo o guardar o lugar para várias pessoas.

Acredito que com poucos recursos financeiros e com elevado sentido de dever, os elementos da Direcção Municipal da Cultura poderiam e deviam fazer algo mais pelos visitantes, que todos os anos “sofrem” para poder entrar no monumento e muitas vezes nem sequer chegam a entrar.

Na esperança que a realidade actual se modifique, deixo algumas sugestões que acredito que melhorariam substancialmente a qualidade dos serviços prestados e também a imagem que os portugueses têm da Câmara Municipal de Lisboa e do seu país: O PAÍS DA CUNHA!!!

Algumas sugestões:

1) A polícia municipal deveria estar presente desde as 06:00 AM, hora em que começam a chegar os cidadãos para guardar a sua vez de entrar;

2) À chegada todos os cidadãos deveriam se dirigir aos agentes da autoridade e pedir uma senha sendo que estas devem ser distribuídas de forma individual.

2.1) Este acto anunciava alguma equidade, nomeadamente na seguinte situação: várias pessoas organizam-se em grupo, sendo que só um elemento vai guardar a vez na longa fila e esperar a chegada dos seus colegas próximo da hora de abertura do monumento.

3) Cada visita comporta aproximadamente 30 cidadãos e tem uma duração de 25 minutos. Tendo alguns cidadãos necessidades especiais assim como tem o próprio monumento, seria justo que por cada trinta cidadãos, cinco lugares pertencessem a cidadãos de mobilidade reduzida, a pessoas com mais de 65 anos e a mulheres grávidas ou acompanhadas por meninos ao colo. As senhas para estes cidadãos não seriam dadas pela polícia municipal no local da visita, pois implicaria a chegada muito cedo destes cidadãos, mas deveriam ser fornecidos nas instalações da Divisão Cultural da Câmara Municipal ou por e-mail, desde que requeridas e devidamente justificadas. Esta acção permitiria um melhor e maior controlo da Câmara Municipal nas entradas do monumento, evitando situações como a que se apresenta a seguir: durante a tarde após largas horas de espera para entrar nas Galerias Romanas eis que chega um agente da Polícia Municipal, indicando que só podem entrar X cidadãos e os restantes terão que voltar outro dia ou outro ano, se for o caso. Isto não necessita ser assim e poderá existir um controlo mais rigoroso que não faça os cidadãos de “parvos” à espera de algo que não podem ter e que para isso muitas vezes deixam de trabalhar ou de repousar para uma semana de trabalho.

























A Rua da Correeiros serve actualmente de local de espera para entrar nas Galerias que têm a entrada junto ao n.º 77 da Rua da Conceição. É de lamentar que neste reduzido espaço, onde se concentram os cidadãos o trânsito não seja vedado durante os três dias em que têm lugar as visitas. Parece-me que é algo tão simples de fazer que é impossível não ter sido feito até aqui por falta de esquecimento.

5) Por fim e tendo algum conhecimento dos problemas inerentes ao bombeamento da água para os cidadãos poderem visitar o monumento, nomeadamente a aceleração da sua degradação, acredito que a afluência verificada nos últimos anos justificava a dilatação do tempo em que o monumento está disponível ao público. Todos os anos centenas de pessoas que pensam que vão conseguir entrar, mas após os agentes da autoridade dizerem que ninguém mais pode entrar o clima de frustração dos cidadãos é visível porque tentaram mas nada conseguiram.

Ainda mais medidas poderia enumerar. Porém, não acredito que seja o excesso de medidas que culmine no sucesso das iniciativas mas sim as pequenas acções que fazem os cidadãos não se sentirem revoltados com o sistema que os regula e para o qual contribuem.

Como português e por questões de cidadania, pedia alterações neste sistema partindo do princípio que um ano é tempo de sobra para aprovar alternativas.



10/09/08

Fichas de Leitura: Julian Steward, The Concept and Method of Cultural Ecology (1955) - História da Antropologia

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Julian STEWARD
“The Concept and Method of Cultural Ecology”,
in Theory of Culture Change, (Urbana III,)
University of Illinois Press, 1955:30-42.

Resumo


A obra de Julian Steward foi das primeiras a chamar à atenção para a importância da ecologia versus cultura, como reforço epistemológico da Antropologia.
No capítulo em análise, O Conceito e o Método da Ecologia Cultural, o autor divide-o em cinco partes:
     - A primeira parte é dedicada ao conceito de Ecologia Cultural, que significa as consequências do meio ambiente sobre a cultura.
O autor refere também os usos que várias ciências fazem do termo Ecologia e à opinião de vários autores enquadrados nessas ciências.
     - A segunda parte é dedicada à relatividade da abordagem histórico-cultural das diferenças culturais.
     - A terceira parte foca o núcleo cultural, onde se concentram vários domínios da actividade humana.
     - A quarta parte aborda a metodologia da ecologia cultural per si: modelo de produção, o comportamento humano e a relação das técnicas produtivas com outros elementos culturais.
A quinta e última parte é dominada pelo papel da metodologia da ecologia cultural, como instrumento de análise da adaptação e da sua influência na mudança cultural.

Palavras - Chave: Ecologia cultural, ambiente, super-orgânico, adaptação, núcleo cultural, multilinearidade.

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Julian Steward (1902-1972) nasceu nos Estados Unidos, tendo ingressado na universidade da Califórnia com 19 anos, onde estudou Antropologia e começou a desenvolver interesse pela relação entre o ambiente e a cultura. Daí os seus estudos também em Arqueologia, Etnografia e Geografia.

Na primeira parte do texto em análise, Steward conceptualiza a ecologia cultural como o "efeito do meio ambiente sobre a cultura".

O principal enfoque do pensamento e da obra de Stward reside no interesse em encontrar uma visão aceitável da evolução em relação às culturas. Embora defendendo a ideia de evolução, considera a diversidade humana dentro da diversidade de ambientes. Deu especial ênfase à ecologia, ás diferenças culturais e à evolução multilinear. Não aceita a existência de etapas universais de desenvolvimento, como propõe a evolução unilinear, defendida por Taylor.

O homem faz também parte da cadeia ecológica, e além de constituir um organismo biológico, é um produtor supra-orgânico; porque produz e reproduz cultura que interage com todo o ambiente ecológico. Todavia, este aspecto foi sempre deixado de fora pela maioria dos grandes estudiosos da ecologia humana e social, referindo o pensador Alihan. Outros autores como Hollingshead, Adams, e Bates sentiram necessidade, por questões metodológicas, de estabelecer uma fronteira entre "ordem ecológica" dada pela competição do indivíduo e a "organização social" dada pela comunicação.

Também os promotores da escola de Chicago, como Park e Burgess se interessaram pelo uso e ocupação dos ambientes físicos da cidade por comunidades urbanas.

Nos anos 50 do século passado, Hawley demonstra um superior interesse, relativamente aos antecessores, pelas questões culturais nos vários habitats.

Afirma mesmo, que o homem actua no ambiente mais como animal cultural do que como animal biológico, fazendo do localismo o seu principal laboratório de investigação. Deduz também que o ambiente é pouco estruturante na cultura, exercendo apenas um papel "permissivo" e "limitativo", reconhecendo também que o ambiente permite uma variedade de vida. Destas duas posições pode-se inferir que os factores históricos são mais relevantes do que os factores ecológicos para a mudança cultural e que a adaptação cultural desencadeia um processo com maior criatividade.

Na segunda parte do texto, o autor critica a posição de ecologistas e de antropólogos, afirmando que os ecologistas sociais e humanos maximizam a universalidade ecológica e minimizam os localismos culturais, e que os antropólogos minimizam o meio ambiente e maximizam a história cultural.

Apesar de não discordar de que a história também explica a cultura, alerta para a sua relatividade, porque a vida humana está organizada numa superstrutura social, como também defendera Marx e sobretudo Engels, através da sua obra, A Origem da Família, da Propriedade e do Estado, que influenciou fortemente o pensamento da época.

Na terceira parte, o autor invoca o seu modelo, que corresponde a um modelo integracionista, que tem como ponto de partida a relação ambiente - cultura.

Assim propõe o conceito de núcleo cultural, cujas características estão mais relacionadas com as actividades de subsistência e as disposições económicas, que inclui modelos sociais, políticos e religiosos.
O autor refere a tecnologia como um dos fenómenos mais importantes para a adaptação de uma cultura, sendo aqui que reside e se acentua o método da ecologia cultural, com o qual o autor entra na quarta parte da sua abordagem textual e que passo a descrever.

Para o grande mestre da ecologia cultural, o método possui três aspectos fundamentais: primeiro deve-se analisar o método de produção no ambiente, segundo deve-se analisar o modelo de comportamento humano, e terceiro deve-se compreender a relação das técnicas de produção com outros elementos da cultura, de forma mais global, como o parentesco, o uso da terra, a posse, etc.
Na quinta e última parte, o autor discute o papel metodológico da ecologia cultural, ou seja a adaptação cultural e as regularidades da mudança cultural, rompendo com os argumentos tradicionais de que só seria possível explicar a cultura através da cultura.
O principal objectivo do autor foi determinar o desenvolvimento cultural de culturas específicas e não a cultura em geral, como faziam s evolucionistas que procuravam regularidades e regras de desenvolvimento universais.
O enfoque evolucionista multilinear de Steward organiza-se à volta de modelos de desenvolvimento válidos para diferentes culturas. Ele vê no homem uma capacidade adaptativa muito mais rápida do que qualquer outro organismo vivo.


 
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Queria prestar um público obrigado à Professora Doutora Gill Dias, professora Catedrática de Antropologia, por me ter ensinado tudo que aprendi sobre a História da Antropologia. O seu falecimento foi uma tragédia e estou convicto que se perdeu uma grande investigadora, uma grande professora, uma grande mulher, um grande Ser deste Mundo. Foi uma honra ter tido aulas com a professora Gill Dias.



Queria agradecer, mais uma vez, ao meu colega António Loureiro pelo seu contributo para a realização deste trabalho, sem o qual este não era possível. Amigos de faculdade, amigos pessoais, em diversas vezes colegas de grupo, nunca esquecerei duas virtudes: o atraso propositado na elaboração dos trabalhos práticos para sentir o stress da última hora, e o facto de ter um telemóvel para fazer peso no bolso porque anda sempre desligado. Obrigado pela sua assistência e espero que sinta que também o ajudei de forma eficaz e eficiente, num bonito sentimento de entreajuda.
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Fichas de Leitura: Edward Taylor, A Cultura Primitiva (1881) - História da Antropologia

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Edward TAYLOR“ A Ciência da Cultura”
In A Cultura Primitiva (1871)


Resumo

As duas leituras da “ciência da cultura”, (xerox 42), levaram-me a concluir da complexidade filosófica e metodológica do texto. Para contornar o problema quedei-me nas “sobrevivências” (p. 16), a partir das quais construí o meu texto, de forma sintética, mas que abrange globalmente o paradigma de pensamento de Taylor.

Tylor é o precursor da Antropologia como o estudo do homem, sendo o primeiro professor de Antropologia.
Teoriza que a cultura humana se desenvolve de forma linear, tal como acontece com o evolucionismo biológico. Como estudioso da religião, vê nesta o melhor exemplo para a sua teoria, afirmando que o animismo e a situação dos selvagens, comparando com a cultura e o homem ocidental representam as fases desse progresso cultural.


Palavras-chave: selvagens, animismo, religião, evolucionismo, progresso, civilizados, sobrevivências.


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Taylor (1832-1917) nasceu em Inglaterra no ceio de uma família da classe média. O pai teve uma pequena indústria ligada ao latão e Taylor deixou a escola aos dezasseis anos, para ajudar o pai, nunca ingressando na universidade.

Com 23 anos contraiu tuberculose, cujo bacilo foi um dos grandes problemas do século xIx, decorrente da Revolução Industrial, com cidade apinhadas de gente, sem saneamento básico, sem água potável, populações mal alimentadas, mal agasalhadas, desprotegidas de uma saúde pública ainda incipiente, longas horas de trabalho nas fábricas em nome do desenvolvimento económico, imortalizado pela obra O Capital de Karl Marx, que viria a ficar conhecido por marxismo como corrente filosófica.

Dada a doença que contraíra, Taylor, foi aconselhado pelos seus médicos a viajar para países quentes. Partiu para os Estados Unidos, onde esteve um ano. Depois Cuba onde encontrou um amigo e conhecido: Christy que era etnólogo. Ambos viajaram para o México, país idílico e exótico. De regresso a Inglaterra publica um livro sobre de viagens sobre a sua experiência no México. As viagens foram o seu grande estímulo para ler tudo. Começou a dar conferências, a escrever artigos e o interesse pelas culturas fazem dele o primeiro autor a dar o nome de Antropologia ao estudo do Homem, tornando-se também o primeiro professor de Antropologia.

Escreveu várias obras e de entre as mais importantes sobressai Primitive Culture (1871), um livro sobre práticas e crenças primitivas. Para Ele existem leis do progresso, do tipo evolucionista, que regulam a vida espiritual e a cultura humana, tal como a biologia animal e vegetal defendido pelo evolucionismo de Darwin, que fez furor nos finais do século. Corrente esta que postula uma evolução unilinear também para a cultura material do homem, cujo estádio mais avançado está materializado na cultural ocidental.

A teoria de Taylor emana uma dialéctica entre os defensores do degeracionismo e os defensores do progressismo.

Taylor defende que a génese das crenças e das instituições culturais são o produto do pensamento racional dos indivíduos, tornando-se muitas vezes, de forma inconsciente, o modus operandi desses mesmos actores sociais.

O autor promove a ideia de que os antropólogos têm a função de descodificar e mostrar as superstições emanadas dos indivíduos, bem como outras tradições consideradas irracionais, que povoam no imaginário comportamental dos indivíduos, de forma a libertá-los de algemas psicológicas e conduzi-los a um progresso social mais rápido e mais condicente com a condição humana.

A esta visão não são alheias as influências da psicanálise de Freud, as ideias de progresso dos enciclopedistas e iluministas como Rousseau ou Condorcet ou ainda o positivismo de Auguste Comte, não esquecendo o já mencionado Darwin.

Não esquecendo nenhum aspecto da cultura humana, Taylor observa que a evolução da religião também é indicadora de fases de progresso. Talvez por isso considera o animismo como o princípio da religião, uma manifestação e a expressão mais longínqua de uma forma da religiosidade do homem, que permanece como reminiscências e sobrevivências do religioso.

Apesar de apoiar a unidade psíquica do homem e de rejeitar a influência da biologia na evolução cultural, acabou por admitir, ao fim de dez anos, que o estádio primitivo dos selvagens se devia à sua inferioridade mental, comparativamente com o homem civilizado do mundo ocidental, conforme refere na sua obra Anthropology (1881).

Retomando o texto da xerox 42 (A Ciência da Cultura), onde está implícita a oposição racionalidade versus emotividade, como metodologia de investigação em Antropologia, assiste-me lembrar que o paradigma metodológico de investigação, pós-moderno, assenta no princípio de que é o objecto que define o método, e não o método que define o objecto.

O confronto entre a metodologia de investigação das ciências ditas naturais e a metodologia de investigação das ciências sociais, neste caso a Antropologia, não faz sentido, porque “(…) toda e qualquer via possível do conhecimento deve ser explorada, cada porta deve ser experimentada para ver se está aberta.” (xerox 42:23).

Relativamente à pesquisa antropológica, o que se conclui, após modelos comparativos de culturas, é que estas já não permanecem isoladas em ilhas culturais específicas, mas caminham num processo evolutivo, fase, após fase, num determinado sentido, através do processo difusionista. A cultura da coca-cola americana, do idioma inglês, da tecnologia do plástico e da fibra sintética, da informação da CNN, ou dessa grande teia mundial do conhecimento que é a www, estão a contribuir para a linearidade e uniformidade cultural. Perante tal facto, a não linearidade manifesta-se com o regresso das “sobrevivências”, o que é de grande interesse para a Antropologia.

Além das técnicas e recursos metodológicos clássicos de investigação em Antropologia, o etnólogo para fazer ciência antropológica deve ter sempre presentes dois elementos fundamentais:
     1. A identificação do fragmento cultural que está abordar
     2. A explicação desse mesmo fragmento
Quero com isto dizer que o etnólogo/antropólogo deve transportar consigo a cartilha do jornalista com os conhecidos cinco ws:







Eis um modelo jornalístico, que advindo da literatura de viagens, pode com rigor ajudar a produzir conhecimento em Antropologia.


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Queria prestar um público obrigado à Professora Doutora Gill Dias, professora Catedrática de Antropologia, por me ter ensinado tudo que aprendi sobre a História da Antropologia. O seu falecimento foi uma tragédia e estou convicto que se perdeu uma grande investigadora, uma grande professora, uma grande mulher, um grande Ser deste Mundo. Foi uma honra ter tido aulas com a professora Gill Dias.



Queria agradecer, mais uma vez, ao meu colega António Loureiro pelo seu contributo para a realização deste trabalho, sem o qual este não era possível. Amigos de faculdade, amigos pessoais, em diversas vezes colegas de grupo, nunca esquecerei duas virtudes: o atraso propositado na elaboração dos trabalhos práticos para sentir o stress da última hora, e o facto de ter um telemóvel para fazer peso no bolso porque anda sempre desligado. Obrigado pela sua assistência e espero que sinta que também o ajudei de forma eficaz e eficiente, num bonito sentimento de entreajuda.