O cartoon Last Blue Tuna na folha de rosto do trabalho, ilustra um atum que não faz ideia do que está acontecer, apenas sabe que está sozinho, o que acontece devido à sobrepesca. Os pescadores consideram a Greenpeace a grande responsável pelos seus problemas, mas na verdade, a responsabilidade é deles, porque adoptaram uma pesca eticamente irresponsável. É em torno do tema que vamos andar ao longo do trabalho, concluindo com a participação pública no âmbito da cidadania ambiental.
O oceano é um recurso de extrema importância, é fonte de muitas formas de vida e de energia e desempenha um papel muito importante na alimentação da população e na regulação da vida do planeta (Carapeto, 1999). As águas oceânicas ocupam 71% da superfície da Terra e representam 97% de toda a água, o que levou Arthur C. Clarke[1 ] a dizer que era inapropriado, ou até incorrecto, chamar Terra ao nosso planeta, quando é evidente que ele é Oceano (Saldanha, 2005).
Apesar da evidente dependência da incomensurável riqueza do Oceano, sobretudo dos recursos marinhos, registam-se impactes nos oceanos desde que o Homem se sedentarizou nas zonas costeiras, fruto da sua acção, que se têm vindo a agudizar ao longo dos séculos, tornando-se insustentáveis na actualidade. Assim, o que inicialmente não passava de uma instintiva busca pela sobrevivência, sem recurso a técnicas especializadas ou equipamentos electrónicos, acabou por se transformar numa preocupação nos anos 60 do século XIX, em prol da deprimente situação das pescas no Báltico e Mar do Norte[2]. Esta situação desencadeou a emergência de um debate sobre a necessidade de quantificar as capturas e planear o desenvolvimento sustentado do sector (Amorim, 2005a).
Pela importância reflectiva, e pela aproximação à actual ética ambiental, consideramos que este debate marca o início cronológico da temática do presente trabalho. Em simultâneo (a este debate) surgiu uma reflexão centrada nas formas possíveis de solucionar o problema, mas de forma muito tímida, e só com o passar do tempo, com o avanço dos conhecimentos científicos e com o desenvolvimento de tecnologias de análise e prospecção, é que se iriam notar desenvolvimentos nesta matéria[3].
Apesar de no século XIX já se evidenciarem algumas preocupações com a progressiva degradação dos recursos haliêuticos, seria só no decorrer do século XX, principalmente depois da II Guerra Mundial, que iria surgir o espaço e as condições necessárias para o progresso do conhecimento científico no âmbito da sustentabilidade ambiental (e.g. marinha).
[1] Escritor e inventor britânico que produziu algumas obras de divulgação científica e também de ficção científica.
[2] Segundo Amorim (2005b:6), “Por volta da década de 60 a depressiva situação das pescas no Báltico e Mar do Norte conduziu à criação de uma comissão que colhesse informações sobre as condições biológicas e físicas que afectavam a fauna piscícola”.
[3] Segundo Martins & Souto (2005:125), “nos inícios de 1900s os organismos responsáveis pelas pescarias tinham acumulado uma notável experiência sobre a exploração dos recursos piscatórios nas costas portuguesas, revelando uma atitude (…) exemplar, quanto ao papel da ciência, face ao empobrecimento ou oscilação dos recursos: a Pesca é uma questão social, económica e técnica”.
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