14/02/09

População do Portugal Moderno (séc. XV-XVI)

A crise demográfica que se vivia na Idade Média não teve um términus semelhante em todos os países da Europa, dependendo das suas características e condições locais. Portugal na Idade Moderna estava carente de pessoas o que limitava o povoamento e a colonização. Exemplo disso foi nos Açores que por falta de povoadores nacionais D. Henrique foi obrigado a entregar duas das mais importantes capitanias a estrangeiros. (Volume V, Nova História de Portugal, Cord. João José Alves Dias, 1998). Assim, no início da colonização a falta de pessoas foi ultrapassada por uma estratégia régia que consistia na atribuição de muitos privilégios aliciando os colonos.

A falta de pessoas no reino, ora devido há peste, ora devido a maus anos agrícolas e á consequente subnutrição, limitaram muito a evolução do reino. Situação que só viria a alterar-se a partir de 1450, com um gradual aumento de população em áreas rurais e áreas urbanas. Esta nova dinâmica populacional alterou muito a distribuição geográfica dos aglomerados populacionais: saíam pessoas dos campos para as cidades, das montanhas para as planícies e ainda saiam pessoas para os descobrimentos fixaram-se como colonos nas terras recém-descobertas.

D. Manuel I após ser aclamado rei manda executar um vasto inquérito na comarca da Beira para que pudesse controlar os impostos, funcionários régios, listar o número de mosteiros e igrejas e saber o número correcto de habitantes da comarca.

Os habitantes foram registados por número de fogos. Se multiplicarmos por quatro (número de elementos que constituem um fogo) cada fogo teríamos a viver na Beira em 30 de Dezembro de 1495, aproximadamente, 65 000 habitantes. Outros levantamentos foram feitos nomeadamente em 30 de Dezembro de 1512, foi feito um arrolamento de moradores por alvará régio, nos concelhos de Valença e Caminha.

O primeiro censo da população foi ordenado por decisão de D. João III em 1527-32. Este censo indicou a “ (…) existência de 282.708 fogos, ou seja, entre 1 000 000 e 1 500 000 almas”. (João José Alves Dias, 1998:13).

Esta população estava distribuída da seguinte forma em termos relativos: província Entre-Douro-e-Minho possuía 20% da população e a província do Alentejo e Algarve possuía outros 20%. Acontece que estes últimos 20% representam quase metade do território português em área, o que quer dizer que a população está mais concentrada no Norte de Portugal.
A distribuição por comarcas era a seguinte: Entre Douro e Minho 34,9%, Trás-os-montes 14,3%, Beira 20,4%, Estremadura 15,1%, entre Tejo e Guadiana 7,4% e Algarve 9,1%. (João José Alves Dias, 1998).

As cidades cresciam de forma exponencial e era no Norte do país que mais rápido cresciam as cidades. Apesar da diminuta dimensão do reino de Portugal em relação ao dos vizinhos Lisboa já era considerada uma grande metrópole à escala europeia, possuindo 13 010 fogos, isto é entre 50 000 e 65 000 habitantes. (João José Alves Dias, 1998).

Com a evolução das expedições marítimas o número de pessoas que saia do reino era grande. Os colonos tinham esperança de enriquecer, pois observavam muitas quantidades de ouro a chegar dos territórios ultramarinos. Entre 1527 e 1580, puderam ter saído uma média de 3500 pessoas por ano o que representara em termos aproximados cerca de 185 000 pessoas.
Posteriormente a 1527 a população continuou a tendência crescente, pelos menos até aos finais do século XVI, à semelhança do resto da Península Ibérica.

13/02/09

A Imprensa no Portugal Moderno (séc. XV-XVII)

São várias as teorias que dão conta do surgimento da Imprensa, sendo duas as mais acreditadas: uma primeira, afirma que a escrita veio da Xilografia da China para a Europa através da Rota da Seda, e uma segunda, baseia a origem da imprensa na ourivesaria defendendo que a escrita surgiu com os ourives, aquando da gravação de letras em peças de ouro e prata.

Os livros impressos até aos anos 1500 denominavam-se incunábulos (designa o começo/origem), e depois do ano de 1501 até 1520 foram denominados de post-incunábulos. Em Portugal o termo incunábulo designa os primeiros 50 anos de tipografia.

Os livros não eram encadernados, eram comercializados em folhas soltas, e só no séc. XIX é que passaram a ser encadernados, passando a ter uma fisionomia semelhante à verificada actualmente.

Segundo o volume V da Nova História de Portugal, cuja coordenação é da autoria de João José Alves Dias, meu professor, a tipografia teria começado em Portugal com D. Afonso V:
“ (…) Se não antes, pelo menos durante a viagem por França, nos anos de 1476-77, terá D. Afonso V contactado directamente com essa realidade e, porventura, com a produção livreira. Não nos esquecemos de que passou meses em Paris, em dois períodos diferentes, sabendo-se que participou em diversos actos, na Sorbonne, berço da topografia francesa (…)”. (pág. 490-491).

Até ao momento não é possível afirmar qual foi o primeiro livro impresso em Portugal porque poderá sempre aparecer ainda um livro mais antigo. Segundo a referida obra, terá sido em Faro que foi impresso o primeiro livro, ainda que em hebraico. O porque de ter sido em faro e não em Lisboa (maior centro cultural) poderá se justificar pelo facto do Sul de Portugal (Algarve) estar integrado agressivo comercio marítimo do mediterrâneo. O mais antigo documento impresso em Portugal e em Língua Portuguesa foi descoberto ocasionalmente recentemente e chama-se Sumário das graças: é um cartaz que estava à porta de uma igreja. Este documento descrevia o resumo da Bula de Sisto IV (1482), “ (…) que já se encontraria impresso circa 10 de Abril de 1488 [tratando-se] de uma folha volante, impressa em uma única face, para facilitar a sua afixação pública” (pág. 497).

Logo a seguir, em 18 de Abril de 1488, surgiu o Sacramental, obra de Clemente Sánchez de Vercial, com 164 folhas e mais tarde, em 08 de Agosto de 1489, surgiu o Tratado de Confison.
Apesar desta produção inicial só no ano de 1497 é que surgiu o primeiro tipógrafo português, Rodrigo Álvares. Se acordo com A. H. Oliveira Marques, Volume I da História de Portugal – Das origens aos Renascimento, até esta data as publicações portuguesas eram feitas com recurso a impressores Alemães, e mais tarde com recurso a impressores “ (…) Italianos e franceses, que passaram a controlar parte significativa da imprensa portuguesa durante muitas décadas” (1997:325).

Ainda de acordo com A. H. Oliveira Marques, foi no século XVI que a imprensa portuguesa se começou a desenvolver, publicando cerca de 1000 livros até 1550 (o que era muito inferir em relação ao mundo ocidental). Desses livros, 50% eram destinados à teologia e religião enquanto que a produção de livros científicos era somente de 10%: o que revela a importância da religião, sendo ainda os eclesiásticos os principais portadores da sabedoria e dos conhecimentos.

O século XVI em relação ao século XV não trouxe grandes alterações à produção, formato e qualidade dos livros, inclusive em relação à localização das tipografias e impressores que manteve a localização geográfica vinda do antecedente, em traços gerais: Lisboa, Chaves e Porto. Para isto muito se deve o facto de o livro manuscrito ter continuado a predominar sobre o livro impresso. Como sempre foi a desconfiança e as duvidas dos compradores: como era possível que um homem numa oficina conseguia produzia muito mais que o método tradicional com os escrivães? Era algo que não lhes entrava na cabeça (A. H. Oliveira Marques).

As duas obras indicadas até ao momento, produzidas por dois grandes historiadores são unânimes e complementam-se. Concluo que foi o desenvolvimento da universidade que permitiu o rejuvenescimento da indústria livreira, e que esta indústria é uma das mais importantes formas de fazer história.