18/07/07

Recensão Critica: Olhos mágicos do Sul (do Sul): lutas contra-hegemônicas dos povos indígenas no Brasil

NEVES, Lino João de Oliveira (2004) in Boaventura Sousa Santos, Reconhecer para Libertar os Caminhos do Cosmopolitismo Cultural, Edições Afrontamento, Porto.



Recensão elaborada em conjunto com o aluno António Loureiro, grande amigo e companheiro.

Resumo: Luís Neves apresenta o seu capítulo com uma introdução onde são explicitados os fundamentos e as metodologias (cruzadas) para o estudo do indegenismo brasileiro. O texto é genericamente dividido em três partes. Na primeira parte são abordados cronologicamente os passos do movimento indígena: década de 70 com as «Assembleias Indígenas», na década de 80 com a «União e Atomização» e na década de 90 com a «Consolidação de Projectos Étnicos». A segunda parte é dedicada à emergência da realidade indígena, através de acções como a «Marcha» , a «Conferência Indígena» e a «Autodemarcação». Na terceira parte do capítulo são referidas as «Trilhas Sinuosas em Caminhos Cuertos» que o movimento indígena percorre em função dos seus ideais e objectivos politico-identitários. O capítulo termina com um conjunto de referências bibliográficas.

Palavras-chave: Brasil, amazonas, indigenista, contra-hegemonia, Sul (do Sul), FUNAI assembleias, união, UNI, atomização, etnicidade, territorialidade, demarcação, auto-demarcação, territorialidade, auto-determinação, violência jurídica, violência policia, marcha, conferência, Kulina, Terra Indígena Vale de Javari, terra/demarcação, propriedade/produção.



O Brasil é o maior país da América do Sul; grandioso não só em dimensão territorial mas também fabulosamente rico e majestoso em termos de diversidade étnica que tem conflituado com o poder em prol do direito histórico e cultural das terras onde nasce.

Os anos 70 do século passado ficam como um marco decisivo no destino das sociedades contemporâneas, quer à escala local e regional, quer à escala global.

Os movimentos libertários e de contestação social, materializados no Maio de 68, através do movimento dos estudantes universitários franceses, as manifestações contra a guerra no Vietname, o make love not war, a luta feminista, música beatliana, a teologia da libertação de Leonard Boff, a pedagogia de conscientização de Paulo Freire, foram factores que depressa se espalharam e “contagiaram” o ethos do índio, despertando neste, sentido para a sua identidade e condição social.

Embora o autor não refira os aspectos atrás focados, eles são de grande relevo para se perceber o contexto histórico, político e social da época.

Todavia, a grandiosidade territorial do Brasil e a sua enorme diversidade étnica, com 215 etnias e 180 línguas diferentes, partilhadas por cerca de 350.000 mil indivíduos, dificultou a consolidação de um movimento índio com significado político para lutar contra a hegemonia do Estado brasileiro.

Apesar destas dificuldades, a década de 70 foi o período ao qual fica subjacente a concepção e ou o embrião de um movimento indígena que se deu a conhecer através de «assembleias indígenas», a primeira das quais em 1974. Do encontro resultou a partilha de informações sobre os diversos grupos, e a consciencialização de exclusão e descriminação a que estavam sujeitos face ao Estado brasileiro. Desta conscientização ficou um «espírito de corporação», como refere o autor recorrendo a Rita Ramos, citada na bibliografia.

Como seria de esperar estas «Assembleias» foram consideradas “personas non gratas” e vistas com desconfiança por parte da instituição oficial indigenista: a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) e pela Policia Federal Militar (PFM), órgão de segurança da ditadura militar brasileira.

Não obstante o controle e a repressão policial exercida sobre os movimentos emancipatórios índios, foi crescendo alianças entre os índios e sectores progressistas da sociedade civil e em 1980 foi criada a União das Nações Indígenas (UNIND). Esta organização era composta por estudantes indígenas que viviam em Brasília e que mantinham ligações com a FUNAI, representando um obstáculo ás aspirações organizativas e politicas dos núcleos regionais dos movimentos índios. No sentido de contornar este obstáculo foi criada na mesma época outro movimento denominado também de União das Nações Indígenas, que fundindo-se com a UNIND originou a UNI.

O trabalho exercido pela UNI fomentou a multiplicação de vários movimentos de base local que se constituíram como inter-locutores dos interesses políticos dos respectivos grupos étnicos. Tal facto veio minimizar e reduzir a capacidade política da FUNAI.

A situação politica brasileira nos anos 80 continuou caracterizada pela ditadura, mas confrontada com manifestações de apoio ao regresso de um «Estado de Direito» e ao fim do regime militar ditatorial.

A crescente contestação ao regime por parte de sectores da sociedade civil juntamente com a ala mais progressista da igreja brasileira e outras instituições não oficiais como a Aliança dos Povos da Floresta, foram reprimidas por serem consideradas um perigo para a segurança do Estado, sendo a UNI vista como a maior ameaça à soberania do país. Para suavizar a confrontação política, as organizações indígenas adoptaram eufemismos para se caracterizarem, como «povos indígenas», «sociedades indígenas»,etc.

A grande reviravolta dá-se nos finais dos anos 80, quando o Estado resolveu sentar-se com os representantes locais, cerca de 500, e discutir pela primeira vez a situação das terras indígenas. Discussão essa baseada na Constituição de 1988, que observava alguns direitos aos <>, que se multiplicavam em organizações, como <<átomos>>, devido ao contexto politico da época ser propicio à difusão e à consolidação do movimento indígena.

Apesar deste avanço democrático, o autor chama a atenção para o facto dos agentes oficiais continuarem a ditar os seus propósitos à revelia dos reais interesses dos indíos, num jogo aparente, como o do gato com o rato.

Na segunda parte do texto, Lino Neves explica de forma geral as influências que as mudanças politicas e económicas no Brasil tiveram na problemática indigenista. Fica-se assim a saber que a passagem da ditadura para a democracia e a economia neoliberal, tiveram nos índios duas marcas violentas: a primeira uma violência jurídica, através da qual o governo brasileiro alterou os pressupostos da demarcação das terras indígenas; a segunda uma violência física, através da repressão a que os índios foram alvo, aquando das comemorações dos 500 anos da descoberta do Brasil. Apesar destas duas situações hostis aos índios, o autor destaca outros dois acontecimentos de grande relevo para a emergência da realidade indígena. O primeiro, a chamada <>  que constituiu um périplo de sensibilização politica e até estética por todo o país. O segundo, a <>  em Porto Seguro, exactamente onde está a impressão digital do colonialismo europeu, através da chegada dos portugueses.

Ainda nesta segunda parte Lino Neves pormenoriza aspectos relacionados com a << Marcha>>, com a <>; a materialização da marcha e outros assuntos internacionalistas que se atomizaram às problemáticas em discussão.

O autor pormenoriza também a formalistica jurídica e constitucional sobre as terras indígenas e a sua demarcação, maximizando a vertente constitucional e minimizando a vertente antropológica, referida apenas na simbólica histórica da terra. De qualquer modo o autor expressa bem a visão regulamentadora e reguladora do Estado brasileiro sobre o que mais move os índios: a terra!

São também dados alguns exemplos de <> de terras pelas entidades oficiais, como o caso do grupo étnico Kulina. Povos vizinhos como os Kanamari e os Deni não precisaram de GPS para demarcarem os seus territórios, foram bem mais ecológicos, recorrendo a materiais da floresta, fazendo valer os seus valores históricos-culturais em choque com os valores regulamentares.

A terra indígena do Vale de Javari, a maior do Brasil, fronteiriça com o Peru, constituiu a grande bandeira do governo brasileiro na concessão de terras ao índios, mas na verdade não passou de uma <>, tendo em conta os vários interesses em jogo, desde a satélitização topográfica daquele espaço às aberturas de caminhos, a chamada <>, de ilusão para o índio.

Finalmente, na terceira parte, explicita ao leitor as <>  que os índios têm percorrido para alcançarem os seus intentos.

A conflitualidade entre índios e europeus pela posse da terra é anterior à formação de organizações indígenas que reivindicam a territorialidade dos seus espaços e comum a todo o indigenismo latino-americano. O problema é de carácter territorial, de demarcação da terra, essencialmente da terra. Para tal o autor cuida desmontar a confusão epistemológica entre trritorialidade/demarcação (perspectiva indígena) e propriedade/produção (perspectiva ocidental) que caracteriza o Norte branco, rico, capitalista, consumista e hegemónico, que subordina que subordina o Sul. E este socorre-se do mesmo paradigma político/económico do Norte para subordinar o outro Sul, o dos índios.

Para Lino Neves, o movimento indígena tenta, através da demarcação da terra, partir para a inclusão do nós na sociedade brasileira e acabar com séculos de exclusão promovida pela visão etnocêntrica dos outros. O autor recorreu a Barre, Léon Trujillo, Santos e Oliveira, citados na bibliografia, para reforçar a análise relativamente à importância da <> da terra, como meio da autonomia politica, social, económica e cultural do povo indígena. Todavia, e numa posição de hermenêutica da suspeita, o autor infere que os particularismos localistas podem ser transformados em <> face à força e emergência da hegemonia da globalização, destruindo assim todos os objectivos dos povos índios. Para Lino Neves, apenas existem dois caminhos para os índios: um contra-hegemónico; a afirmação da etnicidade índia. O outro o da integração na hegemonia do Estado brasileiro, para quem os índios são vistos como <>, temporalmente sincrónicos, ou <>  temporalmente diacrónicos, mas nas margens da sociedade brasileira.

Relativamente à movimentação das organizações dos índios, esclarece que não se trata de um fenómeno recente ou de moda, catalizado por organizações não governamentais (ONGs), ou espírito de solidariedade internacional. A mobilização indígena existe como <>, como <>, como <>, como <<…democratista>>, referindo Santos, Patzi Paco e Almeida.

Apesar de a <>  ser a palavra corrente nos discursos indígenas, estes por estratégia própria, ou moldados pelas correntes do <> estão a pouco e pouco a substituir <> por <>, <>, <>,  numa aproximação à linha oficial do Estado brasileiro, que tem assediado subtilmente as organizações indígenas com programas de inclusão. Está assim a cair por terra o apogeu das lutas contra-hegemónicas dos anos 80, sem, contudo, perderem interesse como projecto emancipatório social e cultural. Estas lutas significam um património histórico contra a ditadura militar brasileira da época. Por outro lado, e quer na perspectiva indigenista, quer na perspectiva pós-moderna ocidental, os índios continuam a ter direito a uma sociedade diferente.

Escondidos “num atalho da floresta”, apenas aguardam que o branco, que os excluiu durante 500 anos se distraia, para assim fazerem valer o seu direito histórico, sobre o Direito burocrático brasileiro.

03/07/07

O SIG (O)




SIG(O)SIG(O) e não encontrei nada, não sei qual é esta função na FCSH. Os prof´s não são caretas, mas a verdade é que SIG(O)SIG(O) e não vejo nada.


AMIGO ANTÓNIO, GRANDE AMIGO. NUNCA O IREI ESQUECER. OBRIGADO POR TUDO. ESTA MENSAGEM VAI ETERNIZAR AS NOSSAS AVENTURAS NA FCSH, DESDE A GEOGRAFIA, À ANTROPOLOGIA, ATÉ À HISTÓRIA.
GRANDE ABRAÇO